Tempo (in)visível
De cada dia existe uma parcela que me escapa
Um par de horas
(quase sempre mais, dois pares, talvez até três)
que me são omissas, que em permanência não lhes chego sequer a sentir o sabor
São horas que passam na minha ausência, mas que contam tanto como as outras no acumular de todas as que um dia se me irão somar
Horas que se adicionam às de uma vida, mas que as não vejo ou sinto como horas
São quase sempre horas nocturnas, horas adormecidas em que também eu me embalo rumo ao paralelo mundo dos sonhos
Nessas horas é o silêncio quem ergue a sua voz e do alto da sua solenidade acrescenta tempo ao tempo que me perfaz
E quando acordo
(na manhã seguinte a essas horas que nem as vivi, sequer senti, apenas se perfizeram porque são essas as suas ordens)
sou eu mais essas horas por companhia, por sombra que me segue e acompanha e acrescenta camadas de tempo ao tempo que já somei, bem cimentadas na pessoa que sou e de que só as rugas e toda a degradação deste meu ser
(que são consequência sua)
me fazem saber que passaram por mim
(também elas passaram por mim)
mesmo sem lhes ter chegado a sentir o sabor
um leve trago desse existir amargo
que me soma tempo sem permissão
que me acelera o passo para o outro lado
© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)