Disponível nas principais plataformas de comércio de livros, onde se inclui a Fnac, Bertrand, Wook e o site da própria editora, a Cordel de Prata.
Em qualquer uma delas podem adquiri-lo e lê-lo, pois gostaria imenso de ter reacções a mais este meu tomo pela literatura, neste caso em forma de narrativa de ficção.
Conto com quem me segue por aqui e agradeço igualmente a divulgação, pois quando somos "desconhecidos" do grande consumidor tudo o que possa auxiliar a contrariar essa situação é sempre bem-vindo.
Obrigado a todos(as) e espero sinceramente que gostem deste meu "E por vezes a noite".
O meu mais recente livro encontra-se já à venda na Bertrand, Wook e muito em breve na Fnac.
Também para dia 1 de Dezembro, às 20h00, está agendado o lançamento desta obra na loja Fnac de Alfragide. Em breve darei notícias mais detalhadas para quem queira aparecer e comigo partilhar este momento especial.
Sinopse:
Existe um livro.
Alucinante e belo, que a todos fascina, a todos impressiona, mas quem o escreveu?
Um autor de sucesso, caído em desgraça, tenta a salvação agarrando-se a esse guião sem dono. De um lado a tentação, de outro o peso na consciência. Que caminho seguirá e onde o levará tal decisão?
No entretanto, outro livro se interpõe: o livro da vida. Onde os actores desta história somam capítulos de breve felicidade, de imenso pesar, de tanta dor, a páginas tantas superada ou, querem eles crer, esquecida.
E a cada dia segue a noite. Conselheira, amante dos amantes, ela segreda, revela, oferece a força e o alento para continuarem a navegar o revolto mar que é a vida.
“O que é natural e fica bem é cada um usar o cabelo com que nasceu”. Passava em pescadinha, naquela velha televisão. Um anúncio, também ele com alguma idade, sobre um restaurador capilar que, nas palavras do locutor, usado diariamente dava ao cabelo a sua cor primitiva. A humidade daquela mal iluminada cave não permitia que o odor pestilento se desvanecesse. Agrilhoados às paredes, quase lado a lado, múltiplos corpos em putrefação testemunhavam a publicidade enganosa daquele elixir capilar. Qual cor primitiva, se nem o cabelo lhes sustinha nas cabeças. Dezenas de embalagens vazias jaziam pelo chão imundo. O passar dos anos havia-as deteriorado e, numa combinação de todo improvável, transformado num ácido altamente corrosivo. Ele bem tentou provar que a promessa se mantinha válida. Mas a morte do produto haveria de levar a tantas outras. Fechou a pesada porta metálica com estrondo e saiu à rua. A luz do dia feriu-lhe a vista. Inspirou fundo e, frustrado, avançou pelo passeio deserto.
O estrondo foi evidente. Os olhares seguiram-no. Houve sobressaltos, os típicos sustos. Crianças pequenas correram assustadas na direção dos pais. Boquiabertas, algumas pessoas retraíram-se. Ninguém se mostrou indiferente ao alvoroço provocado. Na loja, a empregada prontamente pegou no frágil manequim e ergueu-o do chão. Colocou-o de volta à posição de sempre, a vertical. Com ele, erguera-se igualmente a dignidade momentaneamente perdida. Recompostas, as pessoas seguiram os seus destinos. Aquele incidente era já passado. A vida apelava à normalidade, ao regresso urgente desta e a esta. O manequim ali continuaria a sua missão. Vestido, despido, mas sempre em pé. De preferência.
Essa noite foi a primeira noite com que me deparei depois de ti.
Perdido e sem rumo, nela entrei e nela me perdi, a pensar apenas e só em ti. Por isso essa noite sabe a ti, sabe de ti e não me deixa mentir quando digo que chorei ao te ver partir.
Depois dessa, muitas outras noites eu já vivi, perdido e sem rumo, desolado por não mais te ter a meu lado, de coração destroçado, alma escura como este breu que depois se fez em dia também, desde então.
Como um denso nevoeiro, a minha visão tolda-se sem nada a que se agarrar e por isso aguardo o teu regresso para então esta escuridão se dissipar e de novo à luz do dia poder voltar.
Sem receios de que de novo possa amar e nesse imenso mar de tantas ilusões, sentimentos e outras sensações, me seja outra vez permitido sonhar, com noites de luar e dias, enfim, brilhantes, nos quais dois amantes se banhem de luz sem que isso seja a sua cruz, mas antes a sua sorte em vida, a de alguém que encontra o seu par e nele se acolhe e conforta, nele encontra guarida.
Confronto-me com aquele ser na cruz e partilho da sua dor. Também eu fui brindado em vida com uma pesada cruz que arrastei a cada dia da minha existência e que tem sido presságio da minha morte anunciada. Também eu fui flagelado e milhentas chagas se me abriram em rios de sangue que verti em direcção ao imenso mar onde me vejo submergir a cada espaço de tempo. Não deveria haver permissão para tamanho sofrimento. À flor da pele ou profundo como o abismo em que nos deixamos cair, atraídos pela tentação, pela vida de ficção com que julgamos iludir a realidade. E esta não é a minha realidade. Fechado entre quatro paredes de um quarto nu, de tudo despojado. Agradeço a dádiva, a esperança em mim depositada, a ajuda que me foi dada sem nada exigir em troca senão a minha redenção, a minha abnegação à vida de pecado a que me submeti e que tem impregnado os meus dias. Lamento desapontá-los guardiões da fé, da crença num poder do além, mas essa promessa jamais a poderia cumprir. Pois não é esta a minha realidade. Sou animal selvagem e não admito cativeiro algum. Ninguém nem nada me priva da liberdade que me percorre as veias, que me permite respirar. Nem que isso signifique a morte. Pois também ela é libertação. A suprema libertação.
Excerto do projecto "Crónicas de Serathor", de Miguel Santos Teixeira.