Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

100Nexus

TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

facebook

(in)existente

por migalhas, em 15.03.24

nem sei que restos são estes

que nem ossos, que nem espinhas

sobras de um dia, de todos

que me enchem de uma monotonia

de uma intensa tristeza no vazio que são

como o estômago em fome

como o riso disforme

como nada, que nada se perfaz

e que arrasto preso a correntes

preso nesta existência de nula consistência

que não a previ assim

fria, indiferente, uma assombração pendente

na pele deste fantasma que sou eu

num manto de invisibilidade que me oculta desta selva

bendita sejas pelo mal que fazes

que em mim é o bem que sabes

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

desde a primeira hora

por migalhas, em 13.03.24

estás a um passo dessa linha

com que um dia te marcaram

com que um dia te travaram

imposta desde a primeira hora

de que não reténs memória

 

estás a um simples passo

dessa linha esmagadora

fina, leve, avassaladora

que te foram quantas horas

e de que não reténs memória

 

estás a um passo dessa linha

dessa constante assombração

coisa riscada no chão que pisas

que te impediu cada acção

agora te lembras

desde a primeira hora

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

ecos colossais

por migalhas, em 11.03.24

o céu fechou-se, cerrou fileiras

as suas pesadas pálpebras

e precipitou-se

sobre os indefesos, amedrontados

 

zangado, antes berrou, soltou toda a sua fúria e estalou brutal na vastidão abissal

ecoando seco e ameaçador

sobre os incautos, pecadores

 

irou-se e tudo alumiou na noite que impôs, então compôs, a seu tempo, compassada, a seu jeito, cerrada

 

e sobre todos se lançou

na brava impetuosidade do seu ser

a todos enlaçou

na prepotência do punho ditatorial

brotando salvas que ressoaram pelos confins do seu reino

qual homenagem fúnebre a um herói nacional

espezinhado a seus pés, impotente

qual castelo de areia

indefeso animal

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

tu, que do amanhã nada sei

por migalhas, em 07.03.24

não sei o porquê de seres tu

entre incontáveis figuras

frágeis e tão pequeninas

a brincarem às vidas neste lar pedregoso

a olharem o céu à noite e a depositarem desejos numa singela estrela

a rezarem para que assim, por mim, por este e por aquele

na ilusão de um amanhã a todos omitido

revelado ao minuto, nunca de véspera

 

e logo tu, de entre tantas respirações que se sustêm

como sementes, miraculosamente germinadas

como folhas, de verdes a douradas

num ciclo de vida que nos leva a galope

por entre dias céleres e afazeres sem conta

ele que nunca faz de conta, sempre se perfaz depressa

que a sua missão é essa

passo estugado, olhar adiantado

numa cilada que a todos deixa asfixiados

por ele rodeado, a toda a volta, por todo o lado

a cada espaço mais e mais mirrado

e menos uma hora

e lá se foi outra aurora

 

e tu, de entre todos estes crono serviçais

filhos de uma rota pré determinada

toalha ao chão e nada mais

impassível, num olhar que se demora

eternizado neste que sou agora

que amanhã não sei                              

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

único

por migalhas, em 05.03.24

dizem que sou único

que como eu não existe outro

e as nuvens? e as ondas? e as árvores?

e o vento? que sempre que sopra, sopra diferente

e um olhar? que nunca se queda num só lugar

e um pensamento? que num abrir e fechar de olhos já anda a vaguear

e imaginar? que pode ser tanta coisa sem par, basta pensar

e tudo? à minha volta, à vossa, à de todos

que ninguém é duas vezes

apenas semelhante ao seu vizinho

de casa, de prédio, de rua, de cidade, de país, de continente

que nem o amor, que eu quero igualmente repartido por ti, por ti e por ti

e que nunca chega, sempre escasso, à distância por vezes de um simples abraço

mas nunca igual, apenas único

como cada qual

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

capítulo final

por migalhas, em 01.03.24

são formas que se movem

de vontade ressequida

como espantalhos perdidos ao vento

munidos do que julgam ser vida

 

repetem esquinas

alongam avenidas

são sombras, são espectros

em becos sem saída

 

não sabem o que seguem

não sabem ao que vão

são figuras agastadas

subtraídas de paixão

 

compõem-se bem, alguns a rigor

que ainda são gente, gente que sente

um aperto no coração, uma angústia, um tremor 

solidão que mói, qual maleita persistente

 

já não sabem nem sonham

que a vontade foi a enterrar

são carcaças rendidas, de asas partidas

numa vida que já só é restos

até do tempo que ainda tem para lhes dar

 

mais mortos que vivos, num constante pesar

eles deixam-se ir, deixam-se levar

no dorso desse tempo que a todos há-de arrastar

mais estes que nem trapos

sem regresso ou volta a dar

 

e assim desfila este capítulo sem história

a seus olhos final, sem glória

lembrado em lápide de néones brilhantes

já sem nada, nem mesmo memória

já nada como dantes

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

Ao retardador, final

por migalhas, em 14.02.24

de início, ferozes

as folhas da vida correm velozes

incentivadas pelo querer e tudo poder

galopam bravas a ânsia desmedida

 

a meio caminho travam o passo

não mais estugado, algo cansado

é hora de abrandar, de pensar

de entender a manta e descansar

 

depois adiante, ao retardador

esmorece a vontade, maior o dissabor

enorme o desejo em recuar

a tempos que se recusam a voltar

 

que o querer rejuvenescer paira a certa altura

entre a terra e o céu a que ascenderemos

corre no curso inverso que é o do tempo

nesse portento de força em contramão

 

que a vida é um fantoche sem jeito

que a reboque do tempo se espreguiça no seu leito

e nele se materializa

nele se realiza

nele se avista tão longe quanto o dia em que se precipita

ela que se julgava infinita

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

na enormidade do que é EFÉMERO

por migalhas, em 06.02.24

capa_enormidade.png

Esta é a minha mais recente edição de autor. Um pequeno livro que reúne alguma da obra poética por mim produzida nos últimos anos, devidamente "ilustrada" por outra das áreas artísticas a que me dedico amiúde, a colagem.

Se pretender adquirir um exemplar desta peça de arte única e irrepetível, a mesma tem o custo de 10€ + portes de envio e pode encomendá-la directamente a mim em resposta a este post.

 

Dia Internacional do Riso

por migalhas, em 18.01.24

Sorrir é uma utopia

 

Sorrir é uma utopia

Sorrir de quê?

Lá piada, tem

Saber que agora estou, agora fui

E o que ficou?

Choros? Lágrimas?

Ou meio-sorrisos de idiotas chapados?

Riem-se de quê?

Olhem-se ao espelho e chorem

Chorem por serem o que são

Uns merdas que nunca dão a mão

Que fingem que sim, mas sempre não

Escarninhos, preconceituosos, mal-amanhados

De educação falhados

Uns tristes fados

 

Por isso chorem, que sorrir é uma farsa

Tal e qual o que criam, ou julgam alcançar

Que daqui seguem viagem

não um, mas todos

de mãos a abanar

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

princípio, meio, casa partida

por migalhas, em 12.01.24

quantos degraus para chegar ao céu?

quantos passos para me eternizar?

que todos os dias novos rostos vejo passar

rostos que não me canso de decorar

feições que são cada lugar

cada passo que dei

porção de ar que respirei

grão de terra que calquei

quando ainda sonhava ser rei e poder reinar

e uma lembrança deixar

antes de tudo se desvanecer

sonhos, memórias, tanto querer

toda a vontade de ser

um pequeno reino onde tudo pudesse acontecer

sem prazo, limite ou validade

que ser humano é viver asfixiado por esta corda bamba

por este ábaco que nos inunda de idade

por essa areia fina que nos precipita a queda

nos afunila a vida

nessa ampulheta que nos é guarida

princípio, meio, casa partida

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)