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© Copyright Migalhas (2014)
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Duas mãos não chegam
Não chegam para ti
Não chegam para te chegar
Não chegam para o que quero alcançar
Duas mãos o que são?
Senão um enorme espaço confinado
Quilómetros de estradas num beco
Todos os oceanos num copo
Centos de páginas num parágrafo
Tão nada, tão pouco
Duas mãos
Não dá assim, é escasso
Por mais que estique este braço
Só ganha espaço esta distância
E a vê-la cresço em ânsia
Impotente, de mãos atado
e então em duas mãos
Duas mãos não chegam
Nada chega
Tudo também não
No fim é como tudo
Como tudo tende a ser
© Copyright Migalhas (100NEXUS_2020)
Por acaso, vinha aqui a passar, entrei.
Vi ali um canto obscuro e nele me deitei.
Descansei mal, a noite passada.
Entre trapos e cartões, e por isso não foi fácil adormecer.
Nem sonhei, tanto o que tinha para dormir.
Mas acordei, isso sim.
Nem refeito nem satisfeito.
Apenas obedeci ao descerrar das pálpebras, ao erguer do corpo, ao mecanismo tantas vezes repetido de sair em passo apressado, pois espaço privado havia, uma vez mais, ocupado.
Saí, olhei em redor e, como apareci, fiz-me de novo ausente.
Por acaso.
Eu, entre tanta gente.
© Copyright Migalhas (100NEXUS_2023)
Nela ouso pensar
de sorriso no rosto de quem sabe que quer
ou se permite poder.
Com ela me quero deitar
nela me quero depositar
por entre juras e promessas
de dias ao sol, noites ao luar.
Parida de um cravo foi, espinho de rosa é.
Fez a cama, onde me deitei
deu-me a mão, que aceitei
enfeitiçou-me, e eu deixei.
Iludido, apaixonado
fez-me sonhar acordado,
quando o tempo todo assim vivi
apenas e só, enganado.
Não lhe vi a outra face
o âmago que é o seu
erro meu, meu enterro
que nela quis acreditar
Liberdade, Liberdade
que nada tens para me dar
© Copyright Migalhas (100NEXUS_2023)
O livro
Capa.
Capa dura, capa cartão.
Verso de capa.
Os agradecimentos, as dedicatórias.
Prefácio.
Primeira página, segunda e outra e mais outra, numa sequência que nos agarra, com mais ou menos intensidade.
Muitas páginas ou menos do que isso, mas sempre recheadas de pomposas construções gramaticais.
Vida brota ao virar de cada nova passagem, personagens que se evidenciam, outras que por breves instantes marcam o seu espaço, como airosas mariposas num voo que tem tanto de belo como de errante.
A pena, em tempos que lá vão, a caneta, mais recentemente, hoje o teclado e um monitor impessoal que nos reflecte os pensamentos.
Desejos escondidos, pessoais encantos, que aqui ganham a força dos grandes momentos, sob a capa de um produto do imaginário.
As linhas da vida, lidas na mão de quem as escreve e se descreve ao mundo neste papel de maior ou menor qualidade.
Sou eu nestas palavras, sou eu aqui escondido. Não as olhem dessa forma, leiam-nas apenas, na simplicidade com que se perfilam.
Aqui me revejo, a páginas tantas.
Muitas, poucas, mais ou menos complexas, profundas no seu conteúdo.
Soam todas a mim, apenas a mim, eu revivido capítulo a capítulo.
Qualquer semelhança com figuras reais ou com a realidade vivida, deixou há muito de ser pura coincidência. Até por que essas não existem.
Um livro é um bilhete de identidade, qual ficção, qual produto de uma mente brilhante e fecunda de ideias.
Serve-se deste veículo com o qual se maquilha, se mascara, coloca peruca, bigode postiço.
De resto, de todo o resto, é o reflexo cuspido e escarrado do autor. Do tal que todos elogiam por ser diferente de toda a gente. Brilhante, até genial.
O livro sou eu e eu sou o livro.
Aquele mundo em que me revejo, o meu mundo, os meus segredos, a minha essência.
Parafraseando-me, eu feito eu nas entrelinhas com que vos brindo.
O epílogo, que antecede o fim.
Feliz, ou nem por isso, mas fim. Pois que tudo o tem. Até as minhas confissões. Por agora, até às próximas.
O índice. Remissivo. Para quem me queira rever aqui e ali, pontualmente.
A contra-capa.
Dura ou assim assim.
Fecha-se um ciclo.
Fechado está este livro.
© Copyright Migalhas (100NEXUS_2010)