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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Uma original narrativa de ficção, agora ao vosso dispor.

por migalhas, em 09.11.24

E por vezes a noite_img_geral.jpeg

Ele aí está!

Disponível nas principais plataformas de comércio de livros, onde se inclui a Fnac, Bertrand, Wook e o site da própria editora, a Cordel de Prata.

Em qualquer uma delas podem adquiri-lo e lê-lo, pois gostaria imenso de ter reacções a mais este meu tomo pela literatura, neste caso em forma de narrativa de ficção.

Conto com quem me segue por aqui e agradeço igualmente a divulgação, pois quando somos "desconhecidos" do grande consumidor tudo o que possa auxiliar a contrariar essa situação é sempre bem-vindo.

Obrigado a todos(as) e espero sinceramente que gostem deste meu "E por vezes a noite".

Aguardo as vossas críticas.

vir

por migalhas, em 26.09.24

vou foder-te, com quantos As o acto tem

vou comer-te, como o lobo fez à menina e à vovó também

vou enlaçar-te, abraçar-te, babar-te e na mecânica da coisa a minha mente focar

vou violar-te essas entranhas e sugar-lhes essa pútrida vontade de me veres assim, para cima de ti, vil, embrutecido, animalado

sujo e demente sobre a inocência desse teu corpo rendido e desmembrado

tu e eu e mais eu do que tu

nesse leito de dor e espanto

para te fazer rir, tanto

e vir, vir.

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

De solidão rodeado

por migalhas, em 24.09.24

Aqui estou eu, sentado

livros por todo o lado

centos de histórias por contar

milhentos enredos por desbravar

 

Aqui estou eu, escondido

nem achado nem tido

só os livros me veem

a olhá-los, embevecido

 

Cobre-nos um manto silencioso

que forra as capas guardiãs

de quantos capítulos acolhem em si

entre outras tantas, suas irmãs

 

Tamanha fonte aqui encontrei

onde esta sede venho sacear

a páginas tantas já nem sei

se é este saber que me vai confortar

 

Aqui sentado, rodeado

por tantas obras e tão ricas

o que se lê é solidão

neste meu rosto fechado

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

é Domingo e não chove

por migalhas, em 22.09.24

calçei estas botas

a que o tempo deu que fazer

arrastam-se comigo, sem destino

que o que deixei, ficou naquela nuvem de pó asfixiante

 

juntos seguimos a jusante

mas é pó, sempre asfixiante, o que se segue ao prato principal

arame farpado, acho

na garganta este ardor mortal

 

é Domingo e não chove

as calças estão-me largas

o casaco nem se fala

ser andrajoso, movo-me sem me mexer

as roupas puídas, somam-me vidas

 

um dia já tive

fui abastado

não de bens, mas de quem me respeitasse

hoje sou este farrapo

a quem ladram os cães, se assanham os gatos

perdi as botas

descalço vou à fonte

também ela seca

é Domingo e não chove

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

Não me peçam para falar em público

por migalhas, em 29.08.24

Não me peçam para falar em público

Por favor, suplico-vos

A exposição faz-me mal

A ribalta não é para mim

 

Não se arrisquem

não se sujeitem, e a mim também

Ali exposto, a vós, aos mortos, aos espíritos dos antepassados

Entre a espada e essas quatro paredes que me comprimem o peito

Retalham a respiração, me toldam a visão

 

Se ainda se mutilassem

Todos vós os olhos arrancassem, os ouvidos perfurassem, a língua cortassem

As mãos, sim as mãos, que para tanto servem, decepassem

Se por igual se despissem, todos, nu integral, como ao mundo vieram

Se assim diminuídos a sala abandonassem, em romaria, como quem, afinal, não queria

assistir a esta porcaria!

 

Ainda assim evitaria

Não, recusaria!

Determinantemente! Uma e outra vez

 

Que em público mudo sou e já não mudo

Estou bem assim, como estou.

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

É tempo, sabe-se lá de quê.

por migalhas, em 27.08.24

É tempo de sentirmos frio

            mas quem nos abraça é o calor!

É tempo de brilhar a chuva

            mas quem actua é o astro sol!

 

É tempo de dias cinzentos

de nuvens escuras, céu carregado

depressões, constipações

urgências à nora, por todo o lado

 

Mas o que se vê são esplanadas cheias

areais de gente feliz em fato de banho

esquece lá as botas e as meias

viva a vitamina B12, abaixo o ranho!

 

Acabou o tempo com rótulo

Já nada é o que deveria

Andamos ao sabor da maré

Nós, os responsáveis por esta anomalia

 

Assobiámos para o lado por tempo demasiado

Virámos as costas às evidências

Quisemos tudo sem olhar a meios

Resta-nos agora as consequências

 

Fizemos trinta por uma linha

Desrespeitámos a natureza

Deixámos o planeta feito num oito

Para vivermos hoje esta incerteza

 

Rezem agora, rezem

Que deus algum nos vai ajudar

Vestimos a pele do diabo

E é com ele que vamos acabar

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

Ser vento

por migalhas, em 23.08.24

Afago o vento

Que por entre os dedos se esvai

Ser dócil enquanto brisa

Tumultuoso em vendavais

 

Vais onde, oh endiabrado!

Nesse teu rumo libertino

Obstinado, ritmo cadenciado

Dono e senhor do teu destino

 

Tu que não tens pernas, nem pés

Mas corres à velocidade que te apraz

De ponta a ponta, de lés a lés

Onde queres, vais

E a todos te dás

 

Tu que não te quedas por barreiras

Tu que personificas a liberdade

Tu que não conheces fronteiras

Nem tão pouco se te conhece a idade

 

Moderado, és forte, és vendaval

És como mais nada, assim igual

És fúria rebelde em movimento

És tudo em todo o lado ao mesmo tempo

 

És tu a ser vento                                            

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

mulher com filhos

por migalhas, em 21.08.24

mal tem filhos, a mulher desliga o vínculo de intimidade que até então mantinha com o seu companheiro

como se dele esperasse apenas a continuidade sua em forma de criança e nela se visse e passasse a integrar em permanência

quanto ao homem, resta-lhe a esperança de dias em que ela sobre ele relembre o antigo desejo e nele ainda veja quem capaz de lho saciar

que depois segue-se a terceira idade e daí para diante o que era mendigues, moribundo se torna de vez

então já na mão de netos e bisnetos, da prole que do sexo se perfez e que, involuntariamente, o aniquilou de vez.

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2014)

O restaurador

por migalhas, em 19.08.24

“O que é natural e fica bem é cada um usar o cabelo com que nasceu”. Passava em pescadinha, naquela velha televisão. Um anúncio, também ele com alguma idade, sobre um restaurador capilar que, nas palavras do locutor, usado diariamente dava ao cabelo a sua cor primitiva. A humidade daquela mal iluminada cave não permitia que o odor pestilento se desvanecesse. Agrilhoados às paredes, quase lado a lado, múltiplos corpos em putrefação testemunhavam a publicidade enganosa daquele elixir capilar. Qual cor primitiva, se nem o cabelo lhes sustinha nas cabeças. Dezenas de embalagens vazias jaziam pelo chão imundo. O passar dos anos havia-as deteriorado e, numa combinação de todo improvável, transformado num ácido altamente corrosivo. Ele bem tentou provar que a promessa se mantinha válida. Mas a morte do produto haveria de levar a tantas outras. Fechou a pesada porta metálica com estrondo e saiu à rua. A luz do dia feriu-lhe a vista. Inspirou fundo e, frustrado, avançou pelo passeio deserto.

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2024)

A queda

por migalhas, em 15.08.24

O estrondo foi evidente. Os olhares seguiram-no. Houve sobressaltos, os típicos sustos. Crianças pequenas correram assustadas na direção dos pais. Boquiabertas, algumas pessoas retraíram-se. Ninguém se mostrou indiferente ao alvoroço provocado. Na loja, a empregada prontamente pegou no frágil manequim e ergueu-o do chão. Colocou-o de volta à posição de sempre, a vertical. Com ele, erguera-se igualmente a dignidade momentaneamente perdida. Recompostas, as pessoas seguiram os seus destinos. Aquele incidente era já passado. A vida apelava à normalidade, ao regresso urgente desta e a esta. O manequim ali continuaria a sua missão. Vestido, despido, mas sempre em pé. De preferência.

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira - Agosto 2024