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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Lançamento confirmado

por migalhas, em 14.11.24

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A confirmação que faltava.

Agora só fica a faltar a vossa presença, algo que muito me encheria de alegria.

Quem quiser e puder aparecer nesta data, lá me encontrará a tentar dar o melhor num evento que, espero, seja, não do tamanho da minha altura mas sim, do tamanho dos meus sonhos.

Conto convosco?

Devolutos

por migalhas, em 29.05.24

Devolutos

estes meus sentimentos

janelas cerradas, já sem nada

nem portadas

o mundo por um fio

a luz, essa matriarca

agora finada

já sem nada

devoluta também

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira

A que sabe a noite

por migalhas, em 24.05.24

Essa noite eu já vivi.

Essa noite eu já conheci.

Essa noite foi a primeira noite com que me deparei depois de ti.

Perdido e sem rumo, nela entrei e nela me perdi, a pensar apenas e só em ti. Por isso essa noite sabe a ti, sabe de ti e não me deixa mentir quando digo que chorei ao te ver partir.

Depois dessa, muitas outras noites eu já vivi, perdido e sem rumo, desolado por não mais te ter a meu lado, de coração destroçado, alma escura como este breu que depois se fez em dia também, desde então.

Como um denso nevoeiro, a minha visão tolda-se sem nada a que se agarrar e por isso aguardo o teu regresso para então esta escuridão se dissipar e de novo à luz do dia poder voltar.

Sem receios de que de novo possa amar e nesse imenso mar de tantas ilusões, sentimentos e outras sensações, me seja outra vez permitido sonhar, com noites de luar e dias, enfim, brilhantes, nos quais dois amantes se banhem de luz sem que isso seja a sua cruz, mas antes a sua sorte em vida, a de alguém que encontra o seu par e nele se acolhe e conforta, nele encontra guarida.

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira

Dia do Autor Português

por migalhas, em 22.05.24

Confronto-me com aquele ser na cruz e partilho da sua dor. Também eu fui brindado em vida com uma pesada cruz que arrastei a cada dia da minha existência e que tem sido presságio da minha morte anunciada. Também eu fui flagelado e milhentas chagas se me abriram em rios de sangue que verti em direcção ao imenso mar onde me vejo submergir a cada espaço de tempo. Não deveria haver permissão para tamanho sofrimento. À flor da pele ou profundo como o abismo em que nos deixamos cair, atraídos pela tentação, pela vida de ficção com que julgamos iludir a realidade. E esta não é a minha realidade. Fechado entre quatro paredes de um quarto nu, de tudo despojado. Agradeço a dádiva, a esperança em mim depositada, a ajuda que me foi dada sem nada exigir em troca senão a minha redenção, a minha abnegação à vida de pecado a que me submeti e que tem impregnado os meus dias. Lamento desapontá-los guardiões da fé, da crença num poder do além, mas essa promessa jamais a poderia cumprir. Pois não é esta a minha realidade. Sou animal selvagem e não admito cativeiro algum. Ninguém nem nada me priva da liberdade que me percorre as veias, que me permite respirar. Nem que isso signifique a morte. Pois também ela é libertação. A suprema libertação.

 

Excerto do projecto "Crónicas de Serathor", de Miguel Santos Teixeira.

amanhece

por migalhas, em 17.05.24

anoitece, amanhece

e de premeio o mar

onde tudo acontece

qual espelho que tudo reflete

uma imagem, uma prece

na medonha força que cresce

e das bravas vagas emerge

e embrutece

até que saciada esmorece

ao som das ninfas

do cântico que adormece

e prepara a hora, que anoitece

para novo dia, que amanhece

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira

A revolução

por migalhas, em 24.04.24

De quem vieram as ordens para avançar com a revolução?

Pouco se sabe.

Mas pressões de um insatisfeito grupo de militares, podem ter despoletado o processo.

Queriam a mudança, o corte com a ditadura, mas sem derramamento de sangue.

Para mostrarem ao mundo que era possível cortar sem fazer feridas.

O pai, militar orgulhoso de ter integrado a bem-sucedida operação, mostrou ao filho a metralhadora.

A G3, com o cravo cravado no cano a travar a saída de uma munição que fosse.

O filho, sem perceber o que se passava, mas visivelmente contagiado pelo entusiasmo do pai, pegou no cravo e cheirou-o.

O pai baixou a guarda e agora o cravo já nada podia deter.

Nem mesmo a bala, que, fatalmente, o atingiu pelas costas.

Lá fora, a celebração subia de tom.

Já no chão desta casa, um outro tom, este vermelho sangue, desabrochava.

Inocente, a criança olhou o pai inerte, o soldado tombado.

Era dia de festa.

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira

desde a primeira hora

por migalhas, em 13.03.24

estás a um passo dessa linha

com que um dia te marcaram

com que um dia te travaram

imposta desde a primeira hora

de que não reténs memória

 

estás a um simples passo

dessa linha esmagadora

fina, leve, avassaladora

que te foram quantas horas

e de que não reténs memória

 

estás a um passo dessa linha

dessa constante assombração

coisa riscada no chão que pisas

que te impediu cada acção

agora te lembras

desde a primeira hora

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

contra tempo

por migalhas, em 20.02.24

no sepulcral cair da noite

no tumulto que se queda e finda

no silêncio que se apraz agradado

neste fim que aqui jaz agendado

até novo ciclo de tudo de novo

e de nada que se compadece

na orla de um céu que nunca entristece

jamais envelhece

apenas se ergue e deita

se acende e ofusca

na sequência que são os dias e as noites e o tempo

que corre lesto, na pressa de se fazer maior ainda

de tanto que já é e tem

que nem a memória nem ninguém

para lhe dizer basta

são horas, mas de te acalmares

de esse ímpeto furioso refreares e simplesmente apreciares o que são os teus filhos

minutos, segundos

escassas parcelas que de ti se perfizeram

mas que agora somente esperam

por um singelo momento de contemplação

de uma pausa na quietude destas planícies sem fim

onde parar não é morrer

onde tudo se remete à expiação

impassível face ao perdão

impossível

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

a minha menina

por migalhas, em 16.02.24

és a minha pequenina, és a minha menina

és sonho feito realidade, és anos que somas à minha idade

marcas tu agora o tempo, és dia, és noite, és meu alento

estás aqui, estás ali, mas é neste peito que vives em permanência

neste desejo que é urgência

de te ver seguir adiante, confiante

orgulhoso de quem tu és

tanto, tudo e mais ainda

a minha menina, a minha pequenina

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

Ao retardador, final

por migalhas, em 14.02.24

de início, ferozes

as folhas da vida correm velozes

incentivadas pelo querer e tudo poder

galopam bravas a ânsia desmedida

 

a meio caminho travam o passo

não mais estugado, algo cansado

é hora de abrandar, de pensar

de entender a manta e descansar

 

depois adiante, ao retardador

esmorece a vontade, maior o dissabor

enorme o desejo em recuar

a tempos que se recusam a voltar

 

que o querer rejuvenescer paira a certa altura

entre a terra e o céu a que ascenderemos

corre no curso inverso que é o do tempo

nesse portento de força em contramão

 

que a vida é um fantoche sem jeito

que a reboque do tempo se espreguiça no seu leito

e nele se materializa

nele se realiza

nele se avista tão longe quanto o dia em que se precipita

ela que se julgava infinita

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)