Na lista deste ano pelo apetecível prémio de £ 50.000, Hilary Mantel, 2 vezes vencedora do Booker Prize, e a romancista Anne Tyler enfrentam oito romancistas estreantes nestas andanças.
A shortlist, de apenas seis livros, será anunciada a 15 de Setembro, com o vencedor final a ser revelado apenas em Novembro.
Relembro que o prémio do ano passado, apoiado pela primeira vez pela fundação de caridade Crankstart, foi controversamente compartilhado entre dois romances - The Testaments, de Margaret Atwood, e Girl, Woman, Other, de Bernardine Evaristo (Hamish Hamilton).
A shortlist do Women’s prize for fiction 2020, agora anunciada, é liderada por 3 nomes de peso, Mantel, Evaristo e O'Farrell.
Os finalistas do prémio de £ 30.000, anunciados após uma "longa reunião do Zoom", foram elogiados pelos juízes por se envolverem com as maiores questões contemporâneas.
Vamos ver o que dá o anúncio do vencedor final no próximo dia 9 de Setembro. Data que, por motivos relacionados com o Corona Vírus, teve de ser reagendada, estando inicialmente prevista para 3 de Junho.
Não tendo nenhum livro infantil editado, deixo aqui uma história para os mais pequenos, sempre com uma piscadela de olho aos mais crescidos.
O prédio que não quis crescer
Por Miguel Teixeira
Aquela fieira de prédios altos e majestosos, muitos deles a tocarem os céus, só era diferente de todas as outras fieiras de prédios, igualmente altos e majestosos, por uma pequena, mínima, razão, que quase nem se dava por ela. No meio dos seus gigantes irmãos, um minúsculo prédio, quase insignificante, mantivera a sua baixa estatura, resistido à tentação de crescer, de acompanhar os seus vizinhos naquela louca corrida às alturas. E de tal forma mantivera essa sua ideia – muito à conta de uma enorme teimosia - que já ninguém sequer tentava falar sobre o assunto. Passara a ser natural para todos os outros, viver paredes meias com uma “amostra de prédio”, como ainda lhe chegaram a chamar. Provocações a que não deu qualquer importância, convencido que estava da sua ideia fixa de ser assim mesmo, pequeno. Nada o mudara antes, da mesma forma que nada o iria mudar agora. Passados os piores momentos - aqueles iniciais em que a sua teimosia muitas discussões provocara – todos viviam agora em perfeita harmonia e plenamente convencidos de que assim seria para todo o sempre. Havia, no entanto, um prédio, a alguns quarteirões de distância, que ainda hoje não se conformava com esta situação, na sua opinião, ridícula. Por que razão aquele prédio se recusara a acompanhar o crescimento dos seus irmãos? Que estranha ideia o levara a tomar tão insólita decisão? Não querendo dar parte fraca – mas remoendo aquele assunto todos os dias, durante anos a fio – o inconformado prédio, de duzentos e trinta e três andares, lá se decidiu a questionar o parente que ele próprio considerava muito afastado.
Ouve lá, ó pequenote.
Estás a falar comigo?
Claro que estou a falar contigo. Vês aqui mais algum prédio a que possa chamar pequenote? – perguntava o enorme arranha-céus, agora todo encurvado como única forma de se chegar mais perto.
Não gosto que me chamem nomes associados ao meu tamanho.
Tudo bem, é justo. Não volto a fazê-lo. Mas há uma coisa que me tem dado a volta à telha e que gostava de esclarecer contigo.
Muito bem, fala.
Tem a ver com a tua altura.
Pois que outra coisa poderia ser! – desabafou – Conta-me lá então o é que tem a minha altura? – questionou em resposta, preparando-se para argumentar o que tantas vezes já repetira a outros curiosos como ele.
É que é muito baixa.
Pois é. E isso incomoda-te?
Não, incomodar não me incomoda. Mas, digamos, faz-me alguma confusão.
Faz-te confusão?
Sim, faz-me confusão porque é que tu não queres ser alto como todos nós. Tu alguma vez tocaste os céus ou experimentaste a sensação única que é ver tudo lá bem do alto?
Não, nem preciso.
Fazes ideia da vista espantosa que todos temos lá de cima e que tu, aqui de baixo, nem imaginas?
Mas quem é que te disse a ti que a vista que tenho aqui de baixo não é tanto, ou mesmo mais espantosa, do que a que tu tens lá de cima?
Essa agora! Como é que isso é possível?
Eu digo-te. Vocês cresceram, uns mais do que os outros, mas sempre com o objectivo de se afastarem cá de baixo. Tornaram-se altivos, frios, distantes e convencidos de que a vossa estatura era o que mais interessava. Mas enganam-se. Todos. O melhor da cidade está aqui em baixo, nas ruas. Porque o melhor da cidade são as pessoas e elas movem-se aqui, a dois passos de mim. Passeiam, correm, zangam-se, convivem, riem, choram, falam, tudo aqui, bem pertinho de mim. Sente-se o calor humano cá em baixo, não lá em cima. E isso sim, é o que verdadeiramente importa. Por um acaso vocês lá nas alturas têm essa visão?
Das pessoas? Não, lá de cima elas são... minúsculas. Quase tanto como tu.
Lá está! Percebes agora porque é que eu nunca quis crescer como todos vocês?
Acho que sim.
Como é que eu assistia a todo este espectáculo humano, a toda esta vida que pulsa a cada segundo na cidade, se estivesse lá no alto como vocês?
Tens razão. Nunca tinha pensado nisso.
E posto isso, despediu-se, convencido, como todos os outros antes dele. O alto e majestoso prédio, de muitos e muitos andares, regressou à sua posição vertical, compreendendo agora as razões que haviam levado aquele pequeno prédio a recusar-se a crescer. A recusar-se a ser mais um arranha-céus vaidoso e apenas preocupado em tocar o céu, esquecendo que o mais importante, e única razão da sua existência, vive cá em baixo, com os pés bem assentes na terra.
Hoje, Dia do Livro Português, deixo aqui como sugestão algo que me é muito querido, qual filho que um dia vi nascer, crescer, até se tornar num completo exemplar de que só me posso orgulhar. Estávamos em 2009, um ano de grande turbulência na minha vida que ainda assim deixou espaço à criação desta história, também ela fruto de um acontecimento marcante. Mais não digo, deixando aqui uma breve sinopse e o lugar da web onde podem encomendá-lo/comprá-lo, caso tenham curiosidade em lê-lo de uma ponta à outra, agora ainda por cima com mais tempo disponível.
"Perante a inesperada morte de uma colega de trabalho, um homem, até então vivendo uma vida banal, embarca numa busca incessante e obstinada pelas supostas causas desse súbito e prematuro desaparecimento.
A tarefa torna-se ainda mais complexa a partir do instante em que usa como guia desta sua fantástica viagem um espaço de escrita virtual (blog) criado pela sua colega, e até então seu desconhecido, no qual ela depositava as suas mais íntimas e reveladoras confissões, pensamentos, apelos."
Muitas e boas escolhas para estes dias mais caseiros.
Com mais tempo disponível, uma ideia pode ser a leitura.
Seja de livros mais antigos, daqueles que vão ficando para um dia, ou para novas edições, desta vez o que não vai faltar é tempo para lhes dedicar.
Que haja paciência, imaginação para passar as horas, fazer exercício, pois agora anda-se muito pouco, e recolhimento, pois só assim poderemos dar cabo deste maldito vírus.
Aqui fica a longlist relativa ao Women’s Prize for Fiction de 2020. 16 Nomes para um único prémio de £ 30.000 a atribuir dia 3 de Junho, sendo que três foram já vencedores de um Booker. O Women’s Prize for Fiction comemora o seu 25º aniversário este ano e a lista final, a short one, será anunciada em 22 de Abril.
Margaret Atwood com "The Testaments" e Bernardine Evaristo com "Girl, Woman, Other" são as vencedoras da edição de 2019 do Booker Prize. Duas vencedoras, que assim terão de dividir entre elas o prémio de £50,000. Algo que, no entanto, não é inédito, pois já em 1974 e 1992 tal tinha acontecido com os pares Nadine Gordimer/Stanley Middleton e Michael Ondaatje/Barry Unsworth, respectivamente. Ainda assim, o facto de terem sido duas as premiadas aguça ainda mais o apetite pelo que devem ser duas obras de uma qualidade bem acima da média.
Quanto a Atwood, é a segunda vez que ganha este Prémio, desta feita com a sequela do badalado "The Handmaid’s Tale". A primeira ocorreu em 2000, com "The Blind Assassin".
Bernardine Evaristo é a primeira mulher negra a receber o Booker e vence-o com o seu oitavo livro de ficção "Girl, Woman, Other".
Aguardemos a publicação de ambas as obras por cá e, até lá, boas leituras.
O The Guardian fez saber quais são, na sua opinião, os 100 melhores livros do século XXI. De romances de estreia deslumbrantes, a polémicas abrasadoras, passando por história da humanidade e memórias pioneiras, de tudo um pouco aqui está reunido nesta selecção dos melhores dos melhores. A reter, para nos proporcionar mais uns bons momentos de leitura.