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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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desespero

por migalhas, em 29.12.23

desespero

pelo que não vejo, pelo que não sinto

 

desespero

por esta névoa que tudo me oculta

me cala a voz e a visão impede

 

desespero

porque não te entendo, nem quero

porque vivo surdo e mudo e nunca acordado

porque não sinto outro estado que este de viver amarrado

mãos, pés, pensamentos

tantos os tormentos

que em mim habitam enclausurados

 

desespero

pelo que não se vê, não se sente

mas oprime, asfixia

subtrai vida a nascente, vida subtrai a poente

na maré cheia, na maré vazia

sem tréguas ou misericordiosa compaixão

desde a tenra hora, à hora de me unir a este chão

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)

Projecto/performance "Na alucinação que é cada viagem": Texto 3. Na alucinação que é cada viagem

por migalhas, em 25.10.23

Na alucinação que é cada viagem

 

há uma fuga que se escreve

não planeada, inconsciente

mas que está lá, em cada viagem

em cada ida, a anteceder a partida

que fervilha, ganha vida e é combustível que me inflama de vontade

 

há uma fuga que me enlaça

me arrasta caminho fora, me atira para diante

me faz sonhar com amanhãs perfeitos, lá, para onde vou

de que o check-in é apenas preâmbulo

 

há uma fuga que me alucina

me engana a retina e tolda a vida, deixando-me em pausa

num limbo que visto como roupa de Domingo

tão lindo, tão imaculadamente feliz

tão embevecido com a vista daquele quarto impessoal de hotel

para onde, nem sei

mas é o que sempre quis, desde que aqui cheguei

 

Esta fuga, que me rouba à rotina

Que me distrai de quem sou a cada dia

Chama-se viagem ao mundo das alucinações

Sim, se calhar é uma droga, um alucinogénio à mão de semear

Se tiver dentes ou unhas para o tocar

 

Que depois há o voltar

Pés na terra, mãos ao ar

Que este sou eu

Não há volta a dar

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

Projecto/performance "Na alucinação que é cada viagem": Texto 2. O processo

por migalhas, em 24.10.23

O processo

 

Papel, tesoura e cola

assim ou por outra ordem

na desordem que é cada empreitada

na maioria das vezes demorada, lânguida e preguiçosa

que se demora a mostrar ao que vem

 

É matéria-prima que me serve os intentos

de criar uma teia de imagens retalhadas

de imagens fraccionadas, remendadas

que pela minha mente processadas, retornam assim, recriadas

 

É nestas alucinantes deambulações

que empreendo a fuga ao que me é comum

ao tédio da rotina, ao que me fere a retina

em partidas não planeadas, visceralmente desejadas

 

num abraço apertado

com que enlaço cada quadro

cada viagem para lá do universo

vou eu assim, alucinado

em paz com este meu fado

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

Projecto/performance "Na alucinação que é cada viagem": Texto 1. Retalhar

por migalhas, em 23.10.23

Retalhar

 

Retalhar

Na mesma proporção, existir

Aos pedaços

Ou por inteiro

Que a soma das partes ainda acrescenta

 

Retalhar

Cortar em fragmentos

Grandes, pequenos, que o tamanho aqui é pormenor

Da dimensão que eu o quiser

 

Parcelar

É vida que se antevê em cada porção

De papel, de cartão

Um imenso mar adiante

Ou então não!

Apenas má sorte e a inevitável morte

Com ela para o caixote!

 

São retalhos

Aquilo que são

Que colados contam outra história

Nem melhor, nem pior

Diferente

Apenas outra

Nascida da lâmina que assim a concebeu

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)