Nenhum outro romancista moderno era tão apegado ao sublime apocalíptico quanto Cormac McCarthy, que morreu aos 89 anos em sua casa no Novo México. Ao longo de uma carreira na ficção, que gerou 12 romances, duas peças de teatro e uma série de excelentes adaptações para o cinema, a musa de McCarthy sempre foi o abismo. Ele escreveu sobre a escuridão, a violência, o horror e o caos que percebeu no centro de toda a criação – não com o terror histérico de HP Lovecraft, mas com um lirismo extático mais parecido com o de poetas místicos muçulmanos louvando arrebatadamente seus santos amados.
Antes a nação, hoje é o autor que nela habita e labuta que é valente e imortal.
Com o seu empenho e constante garra, alimenta uma identidade que se foi perdendo, esmorecendo e ditando um rumo que ele contraria, pois não se concebe morrer na praia.
Cria, grita, eleva-se, mas não se ilude: sobrevive.
Portugal, antes grande e exportador, é hoje invadido por quem vem de fora, pouco se importando com o muito que importa.
Mas a guerrilha fazemo-la nós, uma vez que a guerra é contra a nossa voz.
Há uma identidade, existe uma vontade, de voltar a erguer a bandeira e com ela cerrar fileiras, a viva voz gritando:
Somos nós, temos nós e só nós o podemos. Juntos, como autores desta mudança. Que uma nação, antes valente e imortal, não se queda às mãos da incompetência, da vergonha, da falsidade.
Que uma nação, antes valente e imortal, vive e alimenta-se daqueles que pela arte lutam, pela cultura se esforçam, pela criatividade vivem.
Trata-se do primeiro volume da trilogia "Área X", de Jeff Vandermeer, e vencedor dos Prémios Nébula e Shirley Jackson de Melhor Romance de 2014. Teve honras de adaptação ao cinema, num filme que contou com um elenco inteiramente feminino, capitaneado por actrizes de peso como Natalie Portman e Jennifer Jason Leigh, e cuja história não deixa de ser, também ela, algo insólita e que aqui pode ser melhor entendida: https://www.publico.pt/2018/03/12/culturaipsilon/noticia/aniquilacao-o-filme-que-hollywood-nao-soube-perceber-1806302
Quanto ao livro, que é o que aqui me traz, eis a sua sinopse:
Área X. Uma zona misteriosa e isolada do resto do mundo. Onde a natureza reclamou para si qualquer vestígio de civilização. Sucessivas expedições são enviadas para investigar o mistério que levou à sua contaminação, mas todas redundam em fracasso e os seus membros regressam meras sombras das pessoas que partiram. Até que chega a vez da 12.ª expedição. Composta por quatro mulheres (antropóloga, topógrafa, psicóloga e bióloga), a sua missão é desvendar o enigma. Mas acontecimentos bizarros e formas de vida que ultrapassam o entendimento minam a confiança entre os membros da expedição. Nada é o que parece e o perigo espreita a cada esquina. Que novos horrores se escondem na Área X? Será a 12.ª expedição capaz de revelar todos os segredos… ou estará condenada à pior das tragédias?
A terceira edição do FIC — Festival Internacional de Cultura volta a Cascais e irá ocupar todo o mês de Setembro com muitas e variadas sugestões em áreas como a literatura, a música, passando pelo teatro, cinema, exposições, animação infantil, noites de poesia, artes de rua e eventos de gastronomia, bem como uma inovadora Festa do Livro. Com uma programação sempre centrada nos livros e na literatura, o FIC tem este ano por tema “Camões: ao desconcerto do mundo”. Este ano o FIC vai ainda entender-se a espaços como a Casa de Santa Maria, o Jardim da Parada, a Casa Sommer ou o Jardim do Museu do Mar. A Casa das Histórias Paula Rego, porém, irá manter-se como o centro do evento. À semelhança do que aconteceu em anos anteriores, a grande maioria das iniciativas tem entrada gratuita. Por tudo isto, este é um festival a não perder! Saiba (ainda) mais em http://bit.ly/2ftCVHo
O filme “ReAlive”, do realizador espanhol Mateo Gil, foi o grande vencedor da Secção Oficial de Cinema Fantástico desta 37.ª edição do festival, recebendo ainda o prémio de melhor argumento nesta secção. O filme, escrito e realizado por Mateo Gil (autor dos argumentos de filmes como “Mar Adentro” e “Ágora”), conta a história de um homem diagnosticado com uma doença a quem é dado um ano para viver, levando a que decida congelar o seu corpo durante 60 anos, quando já há uma solução para o que o afeta.
A ver, certamente, muito em breve numa sala aqui perto.
"Todos os dias Rachel apanha o comboio. No caminho para o trabalho, ela observa sempre as mesmas casas durante a sua viagem. Numa das casas ela observa sempre o mesmo casal, ao qual ela atribui nomes e vidas imaginárias. Aos olhos de Rachel, o casal tem uma vida perfeita, quase igual à que ela perdeu recentemente. Até que um dia... Rachel assiste a algo errado com o casal. É uma imagem rápida, mas suficiente para a deixar perturbada. Não querendo guardar segredo do que viu, Rachel fala com a polícia. A partir daqui, ela torna-se parte integrante de uma sucessão vertiginosa de acontecimentos, afetando as vidas de todos os envolvidos."
“A Rapariga no Comboio”, escrito por Paula Hawkins, foi um dos livros com mais êxito em 2015 — vendeu dois milhões de cópias em apenas três meses. Em Outubro do ano passado, foi anunciado que a história seria adaptada ao cinema. Produzido pela DreamWorks, "A Rapariga no Comboio" tem realização a cargo de Tate Taylor, responsável por "As Serviçais". O filme tem estreia prevista para Outubro, nos Estados Unidos. Ainda não há data marcada para Portugal. Mas o primeiro trailer já pode ser visto aqui: http://www.nit.pt/article/04-21-2016-ja-pode-ver-o-trailer-do-filme-a-rapariga-no-comboio
Aguardamos com expectativa a sua estreia em Portugal na esperança de que faça justiça ao livo.
Saber que um dos mais belos livros que alguma vez li vai ter honras de adaptação à sétima arte, deixa-me entusiasmado e, simultaneamente, apreensivo. Entusiasmado, pois é com imensa curiosidade que anseio pelo modo como a imagem irá retratar o que então foram letras, palavras e frases de uma força tão avassaladora, que para sempre deixaram uma marca inapagável na minha mente. Apreensivo, pois por norma as adaptações cinematográficas ficam sempre aquém das obras que lhe servem de alimento, excepto muito raras excepções que, espero, aqui seja o caso. Pois que um livro assim não merece senão o mais acurado e pormenorizado trabalho de realização, a qual irá estar a cargo de Dominic Cooke, um homem até agora quase exclusivamente dedicado ao teatro. Falo da adaptação do livro de Ian McEwan de 2007, "Na praia de Chesil", romance que foi indicado para Booker Prize desse mesmo ano e eleito "livro do ano" pelo júri dos Galaxy British Book Awards, cuja história tem lugar em 1962, durante a lua de mel de um jovem casal em Dorset. Em resumo, uma história de vidas transformadas por um gesto não feito ou uma palavra não dita, como o autor tão bem descreve nesta sua brilhante frase:
"E é assim que todo o curso de uma vida pode ser alterado - não fazendo nada."