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100Nexus

TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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amor comprado

por migalhas, em 13.02.14

lá vem o amor

é já daqui a um bocado, logo ali ao virar da esquina

com hora marcada, data agendada, prazo de validade

que ele tem um só dia que lhe é dedicado

e quem ama que se cuide, pois só tem 24 horas para ser amado

 

diz-se amor comercial

com preço marcado

que pode ser comprado ou alugado

mas de sentido tem pouco

senão o dos euros que custa mostrá-lo

 

é um amor falhado, de valor esventrado, sem pernas para andar

que nada se restringe a um pedaço de tempo contado

ou nada de intenso se leva que contar desta vida

que só é vivida se o amor for um achado

mas de graça, sem calendário

um acaso que nos conforte para sempre

coração quente, ao negócio indiferente

aqui e em qualquer lado

 

© Copyright Migalhas (100NEXUS_2014)

o que nos move

por migalhas, em 06.08.12

Apontem-me um!

Um único neste mundo presente que nunca se viu com ele de frente.

A fixá-lo deslumbrado, deleitado, embevecido por tudo o que consegue, com um simples toque na máquina que nos move, mas que só a espaços sente este sentir diferente.

Possante afrodisíaco que nos transporta para lá de nós mesmos, nos tira do marasmo e nos faz cometer uma, duas, todas as loucuras tantas vezes pensadas, nesse instante concretizadas.

 

© Copyright Migalhas (100NEXUS_2012)

Esta noite ninguém fará amor

por migalhas, em 14.02.10

Hoje é aquele dia dos corações, dos i love yous, das ilusões de amor que são todos os amores.

Hoje é aquele dia que se instituiu dedicado à maior das entregas, à maior das partilhas, ao maior dos sentimentos.

Tudo isso seria bonito, muito bonito, mesmo, mas a verdade é que o amor, aquele com maiúsculas, aquele verdadeiro, genuíno, já não mora aqui.

Há muito que partiu, fez as malas e debandou, fez-se à estrada e partiu. Para onde, não se sabe. Sabe-se, isso sim, que cansado de ser usado para fins que não os que lhe regem os princípios, tomou a decisão da sua vida e a todos nos abandonou.

É por isso que, mesmo hoje, dia em que lhe é feita homenagem, dia dos corações e de todos os i love yous que só soam a negócio, ninguém conseguirá exprimir um amo-te que seja sem antes pensar em toda a carga psicológica que o acompanha. Porque o amo-te sincero, aquele do coração, pelo qual damos o que temos e o que nem imaginamos, esse partiu, abandonou-nos, fez as malas e debandou. Cansado de se ver traído, ele sim abandonado por cada um de nós, usado para fins que não aqueles que julgou um dia serem os mais íntegros.

Por isso, hoje ou em qualquer outro dia, não me venham com mensagens de amor adulterado, falho dos seus princípios básicos ou gasto de tanto uso indevido que lhe é dado.

Por isso, hoje ou em qualquer outro dia, não me tentem com histórias, pois serão apenas e só ficções daquilo que um dia já foi honesto, sincero, verdadeiro.

Porque, esta noite, certo é que ninguém fará amor.

 

© Copyright Migalhas (100NEXUS_2010)

Amor sem tempo

por migalhas, em 14.02.08

Hoje diz-se dia do amor. Daquela estranha sensação que começa do nada, da pequena fagulha que depois se empolga, ganha confiança e se propaga, avança, alastra a todo o corpo, veste-o, violenta-o, como o fogo que incendeia louco, devasta matas e árvores e todo o coração que se lhe atreve ao caminho, e segue, segue sem se imaginar a morrer, não agora, não em breve, não nunca. Por isso um único dia seria sempre pouco para tamanho empreendimento. Pois que tudo se hipoteca em seu nome, tudo se lhe disponibiliza, o que se tem e o que ainda não se imaginou sequer possível de se ter. E nunca um dia, dois, os que fossem. Nem duas vidas, quantas vezes. Ou não fosse essa coisa a que chamam de amor a mais impossível definição, a mais improvável sensação, a mais inconcebível certeza, tudo e nada, céu e terra, o céu em terra. Nada se constrói como se constrói o amor. Leva todo o tempo, o que se tem e o que ainda não se imaginou sequer possível de se ter. Por vezes nem duas vidas, por vezes nem todo o tempo que alimenta o universo. É assim o amor. Incontável, imensurável, impossível, improvável, inconcebível. E não adianta tentar defini-lo, tentar aprisioná-lo ou sequer domá-lo. Pois isso não seria amor, pois isso não seria amar.

 

© Copyright Migalhas (100NEXUS_2008)

Em nome do Amor

por migalhas, em 18.09.07

Ele é tudo.

O todo, a soma de quantas partes se imaginam possíveis.

Insinua-se assim, eloquente, grandioso, de dimensões avassaladoras, imponente aos olhos de tudo o que o rodeia.

Diz-se cavalo de Tróia, colosso de Rhodes, estrutura brutal na sua essência, na sua aparência por demais esmagadora.

Vê-se daqui, dali, de todo o lado ele é visível.

E bem, ao pormenor, detalhes definidos como se estivesse aqui, a meio metro de quem olha estupefacto tamanha imponência.

Verte poder, suga-nos qualquer veleidade em o ignorar, cientes de que apenas lhe devemos veneração.

Um deus, mito, lenda, a origem do que existe e de quanto ambiciona a tal.

Dele tudo deriva, dele tudo depende.

À sua passagem, um rasto de feitos por demais enormes para se olharem apenas de soslaio.

Antes respeitados, motivo de orgulho, admiração.

Ele é líder, natural, inquestionável.

Sem qualquer tipo de hesitação ou dúvida nele depositamos a nossa fé, crentes em dias melhores, bafejados pelo radioso brilho de quem é resplandecente, ofuscante só por estar presente. 

Possibilidades mil, na sua mão brincadeiras de criança.

Não joga na poupança, até nisso é enorme, quando se propõe o que faz é infinito. Perpetuado no tempo, o seu imenso querer para sempre será o nosso.

Por ele somos heróis de um tempo sempre presente.

Pois que o amor é constante da vida, guia experiente que nos leva a bom porto, seguro.

Face exposta ao sol, num mar de acalmia que se despede até amanhã no horizonte longínquo do que ambicionamos ser.

Em seu nome, em nome do amor profundo, sentido como sentido é o respirar que nos sustenta.

De emoção infectados

por migalhas, em 30.06.05

Custa tanto, tão pouco ou quase nada, amar e ser amado.

Dissuadir o coração de que não necessitamos de nada mais do que a fria razão, que estamos bem assim, obrigado, sem o tremor dessa emoção que nos seduz a cada virar de esquina, numa atracção continuada ao abismo profundo que contrariamos no desespero de uma última tentativa de nos agarrarmos à vida neutra e de racional apenas feita.

A toda a hora ele espreita, nos sussurra belas melodias, entoando cânticos que nos deleitam e sugam para as suas malhas de aroma doce, melosa textura.

Não nos permite qualquer distracção ou a mais singela veleidade, pois à primeira oportunidade tenta-nos com o potente veneno da sua ternura, com que nos trespassa o peito, contamina o coração, espraiando a pestilenta infecção, levando-a a quantos cantos sombrios, mesmo aos mais recônditos, com que depois se banqueteia, embevecida com a sua vaidade.

Enquanto nós nessa angústia, nunca breve, a que moribundos nos seguramos de cada vez que nos perdemos, de cada vez que já nada temos, senão a recordação do quanto sofremos em seu louvor.