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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Cautela

por migalhas, em 07.02.25

tu, que vais formosa e segura

carne exposta aos sete ventos

tem cautela na próxima esquina

dessa rua a que chamas tua

 

é que o mundo mudou

e a cobro da hora de inverno

olhos gulosos seguem essas tuas verdes curvas

esse teu sorriso lindo e inocente

que não sabe nem sonha

o que o espera lá mais à frente

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

derradeira voz

por migalhas, em 04.02.25

também sei ser bruto, primário, ordinário

selvagem de duvidosos costados

que afloram a espaços

numa raiva tal, que nem água vai

 

é um estado que me deixa alterado

na hora em que me toma os colarinhos deste cavalheirismo esgotado

para cavalgar a ira que nele se esconde

sem ponta de vergonha, para mal dos meus pecados

 

aguardar já não é solução

a esperança fez as malas, emigrou

esta pólis está inquinada

às mãos sujas de governantes corruptos

num vício crescente de poder maligno

levado à cena em orgias escancaradas

 

mas cuidado, ó ditadores!

que os quase descrentes, no limite

espezinhados e já moribundos

também se elevam, revoltam e sabem ser brutos, primários

neles aflorando a besta feroz, sua derradeira voz.

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

Asco

por migalhas, em 16.01.25

Que asco!

Que país este, ao que ele chegou.

Envergonha-me, dispõe-me mal, a mim e a milhões como eu

que num bote sem remos, que afunda a pique

enojados existimos, uns sobre os outros

em vielas e ruas que nem espaço possuem

comprimidos pela carga que pressiona e asfixia

a fiscal, a manipuladora, a ditadora

que se banha numa corrupção activa, a que assistimos de forma passiva

num país que já foi tão enorme

e que agora apenas dorme

ressona alto e arrota as memórias dos banquetes esbanjados com o dinheiro que é do estado

que é nosso

mas que nas mãos porcas e sôfregas das víboras no poder

ao povo deixa neste estado

sem casa, sem comida, sem condições para viver.

 

Vamos a sobreviver

até quando, vá-se lá saber!

Que asco!

Que país este, ao que ele chegou.

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

Acontece

por migalhas, em 14.01.25

Bate-me o sol

Quente e afável

Neste amanhecer louvável

 

Mas como? Num cenário assim

posso sentir-me esmagado

triturado, coração estraçalhado

 

Irrompe, sem freio

Com tamanho fulgor

por entre o calor

por entre as pétalas luzidias da manhã

por entre os ninhos que escondem a preguiça do primeiro voo

 

o ar arrefece

este meu peito estremece

é a vida

que mais forte e pujante

simplesmente acontece

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

Desabafo

por migalhas, em 10.01.25

O escuro toma a luz

Asfixia-lhe a vontade

De assalto espezinha a erva

Num rasto que não deixa saudade

 

Metódico infecta

Em linha recta

Sem olhar a quem

Nos ossos deposita a humidade

Com todo o seu desdém

 

Esse breu informe veste-me

da cabeça aos pés

tudo ao seu redor fenece

quem julgas tu que és?

 

Que se é estado de direito, quero-o esquerdo

Que se é cacofonia, quero uma sinfonia

Que se é morte por asfixia, quero-a por alegria

Que eu quero é ver acontecer

Cansado que estou de dar e nada receber

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)