Projecto/performance "Na alucinação que é cada viagem": Texto 5. Vamos a encerrar
Vamos a encerrar
E agora vou
e agora vamos, a encerrar
artistas de alma, de coração, eu e ele
eu, o falador, de cola e tesoura na mão
ele, meu irmão, que na guitarra encontrou a sua imensurável paixão
Dedilhamos temas e mundos paralelos
cortamos, encurtamos, estendemos, recompomos
não contentes, regravamos, camada sobre camada
nesta terra fértil, neste mar gigante
ao sabor de marés, de ventos e luas
da vida que verte límpida do ventre das ninfas nuas
Aqui moramos, mas é noutra realidade que habitamos
eu, alucinado pelas colagens
pelas viagens vividas nas milhentas mensagens
ele, pelas cordas enfeitiçado
as que acima abaixo percorre
numa ânsia, numa fome
que não se explica, que não tem nome
nem precisa
pois responde ao silêncio, à bravura das palavras que nas escarpas mais fatídicas se arriscam a viver
numa força e num querer
que só quem, como eu e ele
pode entender
© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)