Projecto/performance "Na alucinação que é cada viagem": Texto 3. Na alucinação que é cada viagem
Na alucinação que é cada viagem
há uma fuga que se escreve
não planeada, inconsciente
mas que está lá, em cada viagem
em cada ida, a anteceder a partida
que fervilha, ganha vida e é combustível que me inflama de vontade
há uma fuga que me enlaça
me arrasta caminho fora, me atira para diante
me faz sonhar com amanhãs perfeitos, lá, para onde vou
de que o check-in é apenas preâmbulo
há uma fuga que me alucina
me engana a retina e tolda a vida, deixando-me em pausa
num limbo que visto como roupa de Domingo
tão lindo, tão imaculadamente feliz
tão embevecido com a vista daquele quarto impessoal de hotel
para onde, nem sei
mas é o que sempre quis, desde que aqui cheguei
Esta fuga, que me rouba à rotina
Que me distrai de quem sou a cada dia
Chama-se viagem ao mundo das alucinações
Sim, se calhar é uma droga, um alucinogénio à mão de semear
Se tiver dentes ou unhas para o tocar
Que depois há o voltar
Pés na terra, mãos ao ar
Que este sou eu
Não há volta a dar
© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)