pó vagabundo
o pó assenta, sempre o faz
desde que instigado, no seu voo alado
deter-se, ficar-se, é incapaz
bicho irrequieto que vive em todo o lado
só nós teimamos em ocultá-lo
invisível torná-lo
removendo-o, varrendo-o, daqui ou doutro lugar
na certeza de que, adiante, acaba por pousar
daqui, dali, de lado algum ele sai
teimoso, impassível, a lado algum ele vai
omnipresente, ser intransigente
cabeça de cartaz, coisa resistente
apenas na nossa cabeça o eliminamos
na supérflua tarefa que nos faz gente
nós, tolos humanos
dois passos atrás, meio para a frente
o mesmo pó a que seremos lançados
por ele tragados no seu contentamento
aos leões esfomeados, pobres de nós
que nada nos sobra em testamento
é pó, é terra, é o fim do caminho
é arena despida do que é humano
que este morrer é sempre sozinho
é meu, é teu, é destino profano
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