no desfecho
por migalhas, em 03.04.25
no preâmbulo da noite fria
no lusco fusco que faz ponte para o escuro cerrado
ali te vi, parada, perigosamente abeirada
da falésia escarpada
olhar fixo nas ondas desfiguradas
do embate versus a muralha rochosa
e tu, ali, chorosa
a um passo da fatalidade
do voo no breu que, entretanto, se perfez
chegou a tua vez?
não cerres as pálpebras
não te chegues adiante
resiste ao mandante
ao mar que te chama, ao convite da noite
deixaste a mesa posta, a comida ao lume
lá em baixo um gume
afiado, aguçado
e tu sem apetite, senão o de ver aquele abisal destino em ti encarnado
tão bela e impávida ao gélido vento
inebriada pela dor do momento
quebrado o coração
tudo o resto no desfecho
© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)