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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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mundo enfermo

por migalhas, em 10.10.25

Tanto mundo lá fora e eu aqui asfixiado

tanto ar respirável e eu entre quatro paredes degradadas

pelas quais escorrem águas passadas

 

Este espaço que habito encolhe comigo

as janelas são a alma do padeiro

o telhado um tabuleiro, entretanto desabado

juntos partilhamos migalhas

restos e restinhos, o lixo dos que, acima, se banqueteiam na soberba

 

Por entre líquenes e musgos, a fazerem-se de convidados

envolto em notícias passadas e caixotes amarrotados

deposito este corpo, mas nunca descansado

que na penumbra existe o medo de ser acossado

 

Aqui vivo esta embriagada sanidade que já não vê por si

mas somente pelo olhar profundo da impossibilidade

com pouco mais que uma sandes de rançosa manteiga e fiambre apodrecido

incapaz de me lembrar porque fui esquecido

 

Nesta fome de quem não come há tempo demasiado

de quem sem dinheiro no bolso, nem bolso onde esconder as mãos

olha a montra e nela tudo almeja

lampeja o ridículo, que trôpego tropeça na realidade

directo ao chão que tão bem conhece e a queda lhe endurece

destino impregnado de bolor, de ferrugem de cólera latente

na imagem decadente de quem não sendo doente, doente é

enfermo se sente

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2024)