encantado
Se algo me encanta?
Poemar, as palavras arrumar na desarrumação de um poema por instinto.
O sentir que daí vem, o apego à força dessa construção, num empreendimento
hercúleo, dantesco, ao amor e ao que por ele se sofre, quantas vezes tenebroso, que nunca da razão.
Que não existe razão para tal, neste instinto animal de berrar a plenos pulmões, em convulsões da alma, neste doer que se verte em palavras sofridas e cansadas, que se arrastam ao ouvido e lhe soam tão bem.
Tónicos e suplementos de vitalidade, sem idade ou propósito que não o de embelezar os dias, como música musicada das entranhas da solidão.
Encanta-me a poesia. Como a noite fria em que numa rajada doentia se ergue a voz e tudo alumia na via deste destino. Entre tanto desatino, à força de se querer ser mais que tudo. A via láctea, a Cassiopeia, a viagem de uma epopeia de sangue, alma e que calma, a que se lê e ouve, neste poema. Doce e amargo, num trago embelezado, sem espinhas, todo coração.
Esta paixão escorre-me das mãos ao papel e nele se entrega aos prazeres de uma noite de verão.
Abençoadas as palavras, assim sentidas, assim sofridas, em lágrimas derramadas.
© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)