é Domingo e não chove
por migalhas, em 22.09.24
calçei estas botas
a que o tempo deu que fazer
arrastam-se comigo, sem destino
que o que deixei, ficou naquela nuvem de pó asfixiante
juntos seguimos a jusante
mas é pó, sempre asfixiante, o que se segue ao prato principal
arame farpado, acho
na garganta este ardor mortal
é Domingo e não chove
as calças estão-me largas
o casaco nem se fala
ser andrajoso, movo-me sem me mexer
as roupas puídas, somam-me vidas
um dia já tive
fui abastado
não de bens, mas de quem me respeitasse
hoje sou este farrapo
a quem ladram os cães, se assanham os gatos
perdi as botas
descalço vou à fonte
também ela seca
é Domingo e não chove
© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)