Ao retardador – génese
Ao retardador
As folhas da vida assim avançam, embaladas pela brisa de final de tarde
Duas adiante, uma de quando em vez atrás a recuperar memórias quase perdidas
Sobre um pequeno banco, estrutura de madeira, assento de vide
Um breve e merecido repouso
Um recuo ao que foi
Em tempos que não voltam mais
Senão numa folha que volta atrás
A recuperar o que não quer ver esquecido
No curso inverso do tempo
Força em contramão
Num leito de águas revoltas
Fugaz deleite pousado naquele dente de leão
Que segue por que empurrado
Ele adiante, até que travado
No seu voar encantado
Qual vida que segue perplexa a reboque do tempo
E nele se materializa
Nele se realiza
Nele se avista ao longe
E um dia se precipita num regresso que jamais
Tarde demais
Tudo esquecido
Perdido
Ao retardador
Até que o fim
© Copyright Miguel Santos Teixeira (2013)