Antes fosse mentira.
Antes fosse um pesadelo vivido tão vividamente que me assustasse de morte ao dele despertar.
Antes fosse uma ficção que lida ou vista se sacudisse da mente e nos permitisse regressar sãos e salvos à normal realidade de há poucos dias atrás.
Antes fosse uma invenção, daquelas fake news que a toda a hora nos assaltam e causam perturbação.
Antes fosse uma brincadeira de mau gosto, um boato lançado apenas com o intuito de acelerar as batidas do coração.
Antes fosse tudo isso e não uma verdade que a cada dia ganha volume, dimensão, arrastando tudo o que se lhe atravessa ao caminho.
ELE tirano que quer, pode e manda abaixo humano atrás de humano, como pequenas peças de um xadrez perdido antes mesmo de ir a jogo.
ELE diminuto, nem visível a olho nu, ser que não dá a cara mas que toquemos nós na nossa e ei-lo feliz pelos danos colossais que daí adiante nos inflige.
ELE gigante nos danos que provoca, nas mortes, na infelicidade, nas vidas de todos e de cada um, indefesos seres perante a sua fúria devastadora, seja aqui seja do outro lado do mundo.
E o mundo? Irá ele sobreviver? Iremos ao menos aprender? Tirar consequências, ler nas entrelinhas a mensagem que desta vez berrou mais alto e nos deixou a todos em sentido. Iremos?
Quantas mais vezes terá de acontecer? Até tudo morrer? Perecer por fim e dar lugar à natureza? Ela que tantas vezes nos lembra que tudo tem um limite, um fim, a cada vez mais iminente.
Que ela não mente. Mas sente. Sente que sem nós tudo é diferente.
Antes fosse mentira.
Antes fosse.