ando desarrumado
Nesta casa não encaixo
tudo nela me é estranho
as divisões desconhecem-me
nas paredes o estuque estalou
e desde então, a confusão
em casa de ferreiro, espeto-me no chão
por cada passo adiante, sinto-me dois mais distante
subo aos alguidares, é o mais alto que consigo
não tenho ilusões, vertigens não é comigo
tropeço na esfregona, vira-se o balde
tudo por terra e eu ao comprido
no soalho manchado, acumula-se sujidade
pó, cotão, bolor e uma extrema humidade
ando baralhado
de divisão em divisão
já não tenho idade
caduquei como cidadão
não me querem no telhado
tentei a cave, também não
ando desarrumado
não te encontro em nenhum lado
virei tudo do avesso
eu avesso à mudança
mas, mudaste tu?
Partiste e deixaste-me esta casa?
Que mesquinha se vinga
por não te ter sabido habitar?
Sentei-me à mesa, que era a nossa
também ela coxa de coração
desgastada, agastada com a situação
a comida está estragada
arruinada está a refeição
que me resta agora
na estranheza deste lar
que de doce tem pouco
e tudo faz para me desagradar
vou-me embora, corro porta fora
ver-me-ei noutro lugar
talvez sim, talvez não
se me for permitido lá morar
© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)