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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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ando desarrumado

por migalhas, em 24.03.25

Nesta casa não encaixo

tudo nela me é estranho

as divisões desconhecem-me

nas paredes o estuque estalou

e desde então, a confusão

 

em casa de ferreiro, espeto-me no chão

por cada passo adiante, sinto-me dois mais distante

subo aos alguidares, é o mais alto que consigo

não tenho ilusões, vertigens não é comigo

 

tropeço na esfregona, vira-se o balde

tudo por terra e eu ao comprido

no soalho manchado, acumula-se sujidade

pó, cotão, bolor e uma extrema humidade

 

ando baralhado

de divisão em divisão

já não tenho idade

caduquei como cidadão

não me querem no telhado

tentei a cave, também não

 

ando desarrumado

não te encontro em nenhum lado

virei tudo do avesso

eu avesso à mudança

mas, mudaste tu?

Partiste e deixaste-me esta casa?

Que mesquinha se vinga

por não te ter sabido habitar?

 

Sentei-me à mesa, que era a nossa

também ela coxa de coração

desgastada, agastada com a situação

a comida está estragada

arruinada está a refeição

 

que me resta agora

na estranheza deste lar

que de doce tem pouco

e tudo faz para me desagradar

 

vou-me embora, corro porta fora

ver-me-ei noutro lugar

talvez sim, talvez não

se me for permitido lá morar

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)