A revolução
De quem vieram as ordens para avançar com a revolução?
Pouco se sabe.
Mas pressões de um insatisfeito grupo de militares, podem ter despoletado o processo.
Queriam a mudança, o corte com a ditadura, mas sem derramamento de sangue.
Para mostrarem ao mundo que era possível cortar sem fazer feridas.
O pai, militar orgulhoso de ter integrado a bem-sucedida operação, mostrou ao filho a metralhadora.
A G3, com o cravo cravado no cano a travar a saída de uma munição que fosse.
O filho, sem perceber o que se passava, mas visivelmente contagiado pelo entusiasmo do pai, pegou no cravo e cheirou-o.
O pai baixou a guarda e agora o cravo já nada podia deter.
Nem mesmo a bala, que, fatalmente, o atingiu pelas costas.
Lá fora, a celebração subia de tom.
Já no chão desta casa, um outro tom, este vermelho sangue, desabrochava.
Inocente, a criança olhou o pai inerte, o soldado tombado.
Era dia de festa.
© Copyright Miguel Santos Teixeira