A cabana
A cabana
Isolados naquela remota cabana de montanha, pai e filha desfrutam de um tempo de calma e sossego, só ali possível.
Lá fora, anoitece ao ritmo de uma suave brisa.
Lá dentro, reina o silêncio. Apenas interrompido pelo abrir de uma porta.
Na sala, trabalhando no seu último livro, o pai é surpreendido pela presença da filha. Esta olha-o de cima, enterrado no sofá, para lhe dizer:
- Pai, a porta do meu quarto abriu-se de repente. E já não é a primeira vez que acontece.
O pai, fixando-lhe os olhos, responde-lhe:
- Estou a ver que não te contaram a lenda que por aí corre sobre esta cabana.
- Lenda?
- Sim, dizem que é habitada por estranhos seres que assumem a figura de pessoas que nos são conhecidas.
- Conhecidas? Como assim?
- Por exemplo, no nosso caso, poderiam fazer-se passar por mim, teu pai.
A filha mais não disse.
O seu breve grito desesperado ecoou pela sombria montanha, rapidamente consumido por esta. Uma súbita rajada de vento varreu as frondosas copas das árvores, como numa dança de celebração. E o silêncio voltou a abater-se sobre a cabana. De novo esventrada de outros seres que não aqueles que, por diversão, se alimentam das incautas pessoas que ali vão à procura de calma e sossego.
FIM
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