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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Ser vento

por migalhas, em 23.08.24

Afago o vento

Que por entre os dedos se esvai

Ser dócil enquanto brisa

Tumultuoso em vendavais

 

Vais onde, oh endiabrado!

Nesse teu rumo libertino

Obstinado, ritmo cadenciado

Dono e senhor do teu destino

 

Tu que não tens pernas, nem pés

Mas corres à velocidade que te apraz

De ponta a ponta, de lés a lés

Onde queres, vais

E a todos te dás

 

Tu que não te quedas por barreiras

Tu que personificas a liberdade

Tu que não conheces fronteiras

Nem tão pouco se te conhece a idade

 

Moderado, és forte, és vendaval

És como mais nada, assim igual

És fúria rebelde em movimento

És tudo em todo o lado ao mesmo tempo

 

És tu a ser vento                                            

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

Escreve-me um poema

por migalhas, em 31.07.24

Escreve-me um poema.

Olha-me nos olhos e diz-me, por essa pena

quem sou

o que sou

onde estou

para onde devo ir

 

Se ao velejar neste mar chão

de brisa no rosto e fixo olhar no horizonte

posso ver-me em palavras descrito

em quantas rimas me dediques

nessa tua voz e visão

 

Ou então não.

Não haja palavras que me definam

rimas que me façam justiça

voz alguma que me descreva

e seja só este ser indefinido

sem rumo ou destino

que por aqui anda sem saber ao quê

porquê

 

E então te peça

escreve-me um poema

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

entidade

por migalhas, em 26.07.24

Onírico som que me eleva

na casta bruma da noite fria

será o destino que me chama

nesta sórdida melancolia

 

O que fazer, para onde ir

que rumo seguir, daqui por diante

nesta odisseia que é ser

homem, mulher, pessoa errante

numa terra que nos é sempre distante

 

Voo contra ventos

afoito-me mar adentro

mas quem me lê o pensamento

e toma as rédeas da minha vida

é entidade desconhecida

que na penumbra conspira

se por aqui, se por ali

se isto, se aquilo

se ganho, se perco

se vivo ou se agora me despeço

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

Calor e dois pontos de luz

por migalhas, em 23.07.24

Descomunal

Arrebatador

Colossal

Onda de calor

 

Dois pontos de luz

Dois focos de vida

A guiar-me por entre os seus raios

A obstruir-me qualquer saída

 

Tolda-se-me a razão

Do corpo já nem sinal

Nada há a que deitar a mão

Neste braseiro, ponto final.

 

Rasga-se a labareda

Entretanto feita Adamastor

Tudo na frente consigo leva

Num mar de chamas, num manto de dor.

 

Este calor

Os pontos de luz

Cenário abrasador

Que nunca supus

 

Cinzas às cinzas

Que o que era, ardeu

Foi obra do Diabo

Fogo desse inferno, que é o seu.    

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

és tu assim

por migalhas, em 18.07.24

tanta cor nessa branca cal

és tu assim, tal e qual

 

beijada pelo sol

pela brisa acariciada

reinas plena nessa altivez

sempre serena, para sempre desejada

 

és tanta luz, maior a alma

és de uma dimensão inexplicável

na beleza que irradias sempre tão calma

és fértil flor, inigualável

 

esse espaço que é teu também me pertence

jardim de emoções que juntos partilhamos

somos íntimos e não o sabemos

na cegueira deste meio amor a que nos entregamos

 

em ti repouso, bem mais do que o olhar

nessa tua imagem que me perfaz

serenamente, sereno o corpo

contigo me deito num sonho vivaz

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

nada sei

por migalhas, em 16.07.24

não vivo, existo

sufoco, a cada dia

ou será a cada hora?

Que se arrasta, demora.

 

Tirem-me deste filme!

Que o guião é mau demais

os planos seguem parados

os personagens desesperados

 

Preso nesta farsa, não vou a nenhum lado

Angústia? Engulo-a em seco.

Respiro condicionado, peito apertado

As entranhas revolvem-se, eu revolto-me

 

E?

Nada, sempre na inexistência

envolto num nada pestilento

estático estou, em constante permanência

 

Congelado a cada aurora

numa espera que incomóda

vazio por dentro, por fora

assim deambulo eu, nesta ausência

 

E o pior de tudo é a consciência

Que a todo o segundo me assola

de que não sei o que busco

nem tão pouco o que me consola    

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

creio

por migalhas, em 12.07.24

creio

numa vida sem freio

sem amarras ou grilhões

 

creio

sem receio

numa vida sem limites

barreiras ou horizontes

 

creio

acredito nesse crer

de uma vida vivida

apenas e só

como se quer

 

creio

e por tanto assim crer

vou, mas em pranto

por não a ter conseguido viver

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

não vos quero pesar

por migalhas, em 10.07.24

Eu não me amarro

não me dou por todo

não ponho peso excessivo na bagagem desta vida

 

Pela metade sentir

não encher o copo

para depois ser mais fácil deixar ir

de uma vez, não pouco a pouco

 

Aligeirar, para menos ter que recordar

que a dor, o pesar

não devem, não podem

ser carga extra para quem ficar

 

Assim passo de passagem

Tão breve quanto leve

qual ramo ao vento, luz ao luar

que eu não vos quero por mim a chorar

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

tanto e tu nada

por migalhas, em 08.07.24

Tanto para ver, mais ainda para aprender

E deitas tudo a perder?

Tens tudo e mais ainda, semeado na tua mão

Mas o teu sonho é a destruição?

Belezas mil, outras tantas maravilhas

E na tua mente apenas e só armadilhas?

 

Não te interessa, não queres saber

É só o que tens a dizer?

 

Tamanho o desperdício, se me permites dizê-lo

Podias ser sábio, grande pensador

Mas o que te impele é criar dor

E nada te impede de fazê-lo

 

É em matar o próximo que vives obcecado

Sem olhar a quê ou a quem

É em tirar vidas que te sentes saciado

Numa fome doentia que não te detém

 

Estás a leste, perdeste o norte

Investes nessa peste, que será a nossa morte

 

Dessa mente demente

Pariste esta sociedade doente

Ele é ódio, é raiva

É tudo e é nada

É o que sempre quiseste

Nesta morte anunciada         

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)

Chegado aqui

por migalhas, em 04.07.24

Chegado aqui

após esta maratona

tudo finda? ou o que me resta ainda?

 

Chegado aqui

contas feitas

qual o rescaldo? qual o meu saldo?

 

Chegado aqui

que mais me espera?

onde e com que propósito

que o que fui, já era

chegada que está a hora

 

Agora que aqui cheguei

longe das vistas, mais do coração

a quem fui chegado já nem sei

morto que estou de emoção

 

Quem amei, com quem privei

sabem eles que aqui me encontro?

neste estado privado de sentir

neste dia em que me sinto partir

 

Livre de tudo o que um dia fui

aqui chegado

são horas

sigo deitado

 

© Copyright Miguel Santos Teixeira (2023)