Isolados naquela remota cabana de montanha, pai e filha desfrutam de um tempo de calma e sossego, só ali possível.
Lá fora, anoitece ao ritmo de uma suave brisa.
Lá dentro, reina o silêncio. Apenas interrompido pelo abrir de uma porta.
Na sala, trabalhando no seu último livro, o pai é surpreendido pela presença da filha. Esta olha-o de cima, enterrado no sofá, para lhe dizer:
- Pai, a porta do meu quarto abriu-se de repente. E já não é a primeira vez que acontece.
O pai, fixando-lhe os olhos, responde-lhe:
- Estou a ver que não te contaram a lenda que por aí corre sobre esta cabana.
- Lenda?
- Sim, dizem que é habitada por estranhos seres que assumem a figura de pessoas que nos são conhecidas.
- Conhecidas? Como assim?
- Por exemplo, no nosso caso, poderiam fazer-se passar por mim, teu pai.
A filha mais não disse.
O seu breve grito desesperado ecoou pela sombria montanha, rapidamente consumido por esta. Uma súbita rajada de vento varreu as frondosas copas das árvores, como numa dança de celebração. E o silêncio voltou a abater-se sobre a cabana. De novo esventrada de outros seres que não aqueles que, por diversão, se alimentam das incautas pessoas que ali vão à procura de calma e sossego.
Este já está em fila de espera para ser o próximo. Se foi considerado o Livro do ano para The Guardian, Financial Times, The Times Literary Supplement, Observer e The Daily Telegraph, bom, então a expectativa cresce a cada hora que me separa do início desta aventura pelo Reservatório 13. Em breve, muito em breve.
Não há fome que não dê em fartura, diz o ditado. E é mesmo isso. O que aqui há uns anos era raridade por cá, hoje é um mar a perder de vista. Refiro-me à edição de livros fantásticos e de horror que, graças a editoras como a Saída de Emergência, hoje chegam até nós em quantidade e qualidade para nos proporcionar muitos e, quase sempre, bons momentos de leitura. É o caso deste Fome, editado em Junho deste ano, que nos oferece um relato tenso e fascinante sobre a trágica expedição no Oeste americano que levou a um dos maiores desastres da história da América. Numa narrativa sempre em crescendo, cativa do início ao fim, mostrando as dificuldades de uma época em que muitos se aventurarm pelo desconhecido, quantas vezes nunca dele regressando. Recomendo vivamente.
Com adaptação para filme prevista para dia 21 de Dezembro na Netflix (Bird Box, com Sandra Bullock no papel principal), com o galardão de Melhor Livro de Terror (Vencedor do prémio This is Horror) e com o sugestivo teaser a dizer-nos: "Não abra os olhos. Há algo terrível lá fora." era impossível passar-lhe ao lado. Devo admitir que foi um pouco às cegas que me atirei a ele, mas em boa hora o fiz. Se recomendo? Vivamente!