Improváveis consequências
A espaços. Apenas a espaços me conforto com os dias ímpares, desfigurados, sem identidade a que apelar. Não poderem ser aqueles que eu concebo, fiéis à sua alvura, suaves, inofensivos. Aqueles que olhar algum fere, em que um atalho não é uma armadilha. Em que não é a excepção que vinga a parte mas tudo é matéria que apazigua corpo e mente e os une sem malícia.
Em Bogotá chove, em Santiago faz sol, aqui, em minha casa, sou eu que faço o tempo, é ele que me preenche, que me consome.
Os olhos vêem o que a mente não deseja. Esta configura e só na loucura me faz ver chuva e sol em uníssono, num dia qualquer, improvável até em Bogotá ou em Santiago do Chile.
Não sei que diga. Olho e vejo e a confusão instala-se. Por que não apenas paz? Ver sem tremer, sem temer as entrelinhas? Nada se me afigura inocente, tudo esconde algo mais. Como um vício que se instala e que nem a mais terna visão consegue domar, apaziguar. Surge em Bogotá, em Santiago, surge em todo o globo.
A raiz vingou, cresceu, deu fruto, abre a flor e mesmo num dia radioso ela mostra o que só eu vejo: mostra dor, ausências vivas, vazios urbanos, naturezas mortas. O que recolho é apenas o escalpe de uma vida sofrida, onde tudo se parece encaixar, mas nada se chega a concretizar. Por que é assim, é farsa, falsete, improbabilidade segura de si, que se dissimula por entre os dias, mesmo os mais belos.