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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Deixei de tentar o suicídio - Parte 2

por migalhas, em 20.07.07

(continuação)

Não fosse a mulher-a-dias passar-me um sermão de como ia ser difícil e trabalhoso tirar aquelas manchas de sangue da banheira e dos azulejos da casa-de-banho, quando tentei cortar os pulsos.

Ou as perguntas inocentes da minha filha, ainda pequena e na idade dos porquês, que insistia em confrontar-me com banalidades inoportunas em mais uma hora da verdade:

- Papá, papá, por que é que estás a atar o cachecol do meu ursinho de peluche a esse candeeiro? A mamã já te disse que fica cheio de pó e eu preciso dele para levar o Rupert à rua. Não vês o frio que está?

Ou a surpresa de uma caixa de comprimidos ingerida de uma só vez me proporcionar a maior caganeira da minha vida e não a passagem para a outra margem, como eu previra. Mãozinha marota da minha filhota, outra vez ela a evitar o estatuto de órfã de pai, que dias antes usara da sua destreza e curiosidade típicas, para colocar gomas, curiosamente semelhantes na forma e cor, no espaço que deveria ser, apenas e só, ocupado pelos comprimidos para a ansiedade. Ansiedade essa que, entretanto, se apossara da minha esposa, uma vez que não via a hora daquelas minhas tentativas darem certo. Por isso, recorrera aos préstimos do nosso médico de família para que este lhe receitasse qualquer coisa capaz de a acalmar, uma vez que eu não estava a conseguir.

Não fosse esse conjunto de contratempos e a esta hora estaria descansadamente a usufruir da vida após a morte, daquela que tanto se fala e tão pouco se sabe. Não sei se serão razões válidas, razões capazes de justificar o abandono destas minhas tentativas. Mas a verdade é que não contava com tantas dificuldades, tantos obstáculos e, consequentemente, tanta frustração. Resolvi por isso parar antes que entrasse numa depressão profunda e então aí fosse mesmo parar à cama e acabasse por me acontecer alguma. Parei a tempo, acho eu. E em boa hora o fiz. Por que mais vale parar a tempo, do que depois ser tarde demais.

FIM

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