Deixei de tentar o suicídio - Parte 1
Ponderada, a decisão foi tomada, se bem que a custo. A custo de várias marcas que se acumularam dolorosamente nos pulsos, no pescoço, nas têmporas, no estômago. Os tempos não estão para isto. Ou bem que se consegue à primeira, e aí existe uma clara rentabilização dos meios envolvidos (cadeiras, cordas, lâminas, comprimidos, etc.), ou insistir em resultados que teimam em não acontecer, apenas por que existe uma obsessão doentia em passar para o lado de lá, não está com nada. São custos difíceis de suportar, a que se juntam os que derivam de internamentos e cuidados médicos sempre necessários após cada nova tentativa falhada. Assim não dá! Mesmo! A pessoa bem se esforça e, se de início é a falta de experiência ou de prática, depois passa a ser pura falta de sorte ou jeito não assumida, como convém. Há que lidar com o remorso, com a sensação de fracasso, para além da aura de incapacidade, de incompetência, que começa a envolver-nos e, aos poucos, a consumir-nos. Algo que só à custa de muita força de vontade nos consegue fazer continuar. É um processo que requer um conhecimento profundo do próprio ser, sob risco de este não conseguir dar o salto. De conseguir avançar nos seus propósitos de pôr termo à vida, à sua inútil existência. Mesmo lendo alguns, bastantes, imensos ou quase todos os manuais disponíveis, e que, efectivamente até são úteis ferramentas de trabalho em todo este processo mórbido, a verdade é que, por si só, não fazem milagres. Pessoalmente, tentei 3 vezes e, por fim, decidi-me a abandonar a pretensão de tentar morrer antes de tempo. E das 3 posso dizer que estava tudo tão bem encaminhado… (cont.)