Asas esquartejadas
Arrastam-se-te as asas
Dorso pesado voltado ao chão
Morre assim moribundo o pássaro
Ave repelenta do meu coração
São estes olhos que te vêem morrer
Que um dia do nada te guiaram em vão
São estes os olhos que não te querem conhecer
Assim infectado sem sombra de razão
Até podes resistir e dizer que voltaste
Que de nada me animas esta minha vontade
Na minha mente perdura apenas a tua figura
Nada segura, esfarrapada, de asas esquartejadas
São negros estes olhos, os olhos que te crêem assim
São o espelho do que és, foste, serás
São almas encardidas que na candura volátil se esfumam
São o que são, sou eu e tu também
Virá o dia em que te descobrirão
Velho renegado à razão
A que te entregaste na ilusão de que faria de ti alguém
Outro que não aquele em que te tornaste
Miserável, deplorável, sem direito a perdão
Ser macilento, sempre à cata de quem te desse a mão
Te servisse de tábua salvadora
Te servisse o ar e ainda assim to ajudasse a respirar
Foste de vez ou ainda aí estás?
Resistente como só a ruindade
Não fazes cá falta
Tanta ou tão pouca como a falsidade