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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Será chuva?

por migalhas, em 06.12.06

E se fosse eu? E se fosse hoje? E se fosse ainda mais do que a conta? É certo que, segundo a teoria das probabilidades, este tipo raro de coincidência apenas deverá acontecer uma vez em cada 25 mil anos. Mas e se, ainda assim, fosse hoje? E logo comigo? Eu que até nem sou muito dado a estas coisas da sorte ao jogo (sou-o aos amores, que é o que realmente importa), mas que, como humano e sempre nas cascas no que concerne ao belo do dinheirinho, não descuro uns trocos extra, sempre que aparecem. Parece que já estou a ver a cena toda: fim do dia, meto pela Marginal rumo à saudosa Expo 98 e sigo direitinho até ao recentemente inaugurado Casino de Lisboa. Aí, movido por uma fé daquelas capaz de mover montanhas, dirijo-me à mesa de jogo e olho nos olhos o croupier para lhe dizer que estou ali para ganhar. Ganhar muito dinheiro à custa dele. É claro que, a princípio, ele vai responder-me com um sarcástico sorriso amarelado, como que a dizer:

“Vai sonhando, vai, palhaço. Fia-te na virgem e não te ponhas a palmilhar o caminho de regresso ao teu barraco ao fim a primeira centena de euros perdido, e depois vai dizer que te trataram mal aqui nesta casa.”

Mas quando começar a reparar que aquela é a minha noite e que o número em que insistentemente aposto não pára de insistentemente sair numa sequência apenas ao alcance dos mais afortunados, aí ele recolherá aquele maxilar inferior que voltará a ocultar a fileira de dentes brancos e passará a expor uma tez muito mais sombria, acompanhada de suores frios que no horizonte apenas lhe apontam a fila do centro de emprego lá do bairro dele. Imparável, num ritmo que ia deixando a plateia de curiosos perplexa, a inacreditável coincidência cobria-me ali mesmo da riqueza que desde sempre perseguira. Dezasseis vezes seguidas saiu aquele número, naquele jogo de roleta. Não sem antes o croupier, estupefacto e já quase rendido à evidência, ter sido substituído ao fim da oitava vez que a esfera de roleta parou no 13, vítima dos nervos e da emoção que dele se apossara sem aviso prévio. O que se seguiu a ele, foi igualmente brindado com esta sequência ganhadora e letal para o casino, que só cessou à 16ª rodada. Impotente e incrédulo, viu-me sair porta fora, de regresso à minha humilde morada, com mais 180 mil euros acrescidos à minha conta bancária, agora bem mais aliviada e a beneficiar de uma súbita melhoria do seu estado de saúde financeira. Que rico Natal este iria ser. Prendas para todos e um fundo de maneio extremamente bem-vindo para algumas extravagâncias imediatas. Um invejável pé-de-meia no sapatinho. Que belo conjunto. E de pensar que só daqui por mais 25 mil anos outro cidadão como eu irá beneficiar desta improvável combinação de astros, a que chamam de coincidência. Mas terá sido, de facto, coincidência? Ou terá sido a tal de sorte? Uma coisa eu sei. Que gente não foi, certamente. E a chuva não bate assim.

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