A matilha
«Decidido a certificar-se de que o pior lhe havia batido, não só à porta mas, mais do que isso, à dianteira do seu carro, entreabriu ao de leve a porta do seu lado e espreitou para o pavimento molhado. Uns metros atrás, estendido inanimado e flagelado pelas intensas e pesadas gotas de chuva, descortinou o que lhe pareceu ser o corpo de uma pessoa adulta. Voltou a fechar a porta e sacudindo a água que por breves instantes o incomodara, virou-se para a sua companheira. De tez pálida e sem reacção perceptível, esta mantinha inalterável a posição tensa que adoptara desde o momento do embate.»
In “A Matilha dos Desencantados”
É este o ponto de partida para um drama que irá assolar cada uma das mentes que vagueiam por esta ficção, numa dolorosa viagem ao mundo do desespero. A culpa, o peso consciente, o desejo de remissão sempre adiada, tudo se concentra numa espiral de loucura incontrolada que irá conduzir a matilha ao total desencanto.