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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Sem ponta de vergonha!

por migalhas, em 08.08.06

Dizem-se criativos, originais no que fazem e propõem, olham o umbigo horas a fio e incham sempre que alguém alude a um trabalho seu que mereceu alguma atenção. São publicitários como eu o sou. Só que, não me perguntem porquê, cada vez menos me identifico com a presunção barata que esse tipo particular de criativo exibe sem pudores, como se daquilo que fazem viesse algum bem ao mundo. Custa-me que alguns, nomeadamente aqueles que se afirmam talentosos na arte de fazer anúncios, andem para aí a vender ideias que já tiveram outros progenitores. Esse tipo de talento também eu, ou qualquer outra pessoa, pode ter. Folhear uns livros de publicidade, olhar anúncios espectaculares e depois “adaptá-los” quase a papel químico para um produto seu, não me parece digno de qualquer talento. Mais me parece uma cópia que depois não se assume ou se desculpa com argumentos que não convencem ninguém. É o caso do último anúncio da Super Bock, agora lançado no âmbito de uma campanha de Verão que já leva outros que contar. Este, em particular, simula as pernas de uma suposta mulher (a miss playbock) conseguidas à custa de duas garrafas colocadas lado a lado. Ora acontece que neste pequeno meio tudo se sabe e não é que folheando o anuário número 15 do famoso Epica Awards, o “Epica Book” de 2001, não dou de caras com esse mesmo anúncio? Bem, não era esse mesmo anúncio, por que o que ali se expunha, e que justamente foi premiado nesse concurso, era para a marca de cerveja Heineken. Curioso, até o produto era o mesmo. Tal foi a fixação pela ideia, que nem se deram ao trabalho de a disfarçar, ou usá-la para outro produto, nada. E para quê? Mesmo que alguém desse por isso, nada de mais lhes iria acontecer, pois sabem-se intocáveis. Talvez por isso, um outro clone, este para a Prevenção Rodoviária e por sinal bem mais polémico, pois mexe com crianças, mortes na estrada e um suposto acidente de avião, vem juntar-se ao anterior, no panorama publicitário actual. Mais uma moeda, mais uma viagem, desta vez a www.worldswimformalaria.com/en/downloads_videos.aspx, e ficamos olhos nos olhos com o original, anúncio feito no passado ano para a "World Swim For Malaria”, intitulado “7 Jumbo Jets”. Da agência responsável pela “fotocópia” dizem tratar-se de «pura coincidência». Claro que sim. E nós somos todos uns pategos que aqui andamos a vê-los passar triunfantes à custa do segundo fôlego de ideias a que acham piada. Fico-me pelo comentário, é preciso ter muita lata! Só pode ser do calor que se faz sentir. Um tirado de um livro de 2001 e outro ainda mais recente, do ano passado! Tenham dó. Ao menos fossem a algo mais antigo. Talvez seja por estas e por outras que cada vez tenho menos paciência para esses picadores que em vez de usarem os neurónios que era suposto terem, recorrem sem qualquer tipo de pudores aos alheios. Realmente assim não custa nada ser criativo. Pegar no que já está pensado e fazer por cima. E se existem coimas para este tipo de atitudes menos dignas noutras áreas artísticas, por que não aqui também? Não são os profissionais da nossa praça que afirmam que a publicidade é uma arte? Mesmo que para tal se prescinda do objectivo fulcral da publicidade, que afinal é o de vender o produto ou serviço que a ela recorre? Se assim é, então que assumam as consequências dos seus feitos artísticos. Pois não me parece que este acto seja menos gravoso do que o crime de cópia de uma música ou do de apropriação ilegal de uma ideia já tida para servir de base ao argumento de um livro. Seria um passo bem dado no sentido de uma publicidade realmente original, a brotar espontânea e genuína de cabeças realmente dotadas. Senão um ponto final, pelo menos seria uma vírgula nesta tendência crescente de plagiar a torto e a direito sem ponta de vergonha. Quem sabe assim se fizesse uma selecção natural das espécies, obrigando as menos dotadas a emigrarem para outras actividades mais condizentes com as suas aptidões naturais, deixando espaço livre e emprego a muitos e bons que por aí se andam a desperdiçar. A ganhar ficávamos todos. Disso não tenho dúvida.

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