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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Porque hoje é sexta-feira

por migalhas, em 09.07.04

A proximidade já quase palpável de dois dias de descanso absoluto, pelo menos ao nível mental, deixam no ar uma agradável sensação de liberdade. Uma sensação que nenhum outro dia da semana tem o dom de proporcionar, seja a quem for. Mesmo àqueles que vivem, única e exclusivamente, para o trabalho e pouca ou nenhuma importância atribuem às pausas. O que não é o meu caso. Eu adoro pausas. Aliás, não consigo conceber a minha pacata vidinha sem pausas. Se calhar é por isso que ela é pacata. Porque não apresenta a grande novidade de finais do século passado, o dito "stress". Esta descoberta recente ou, se quisermos, a designação pomposa encontrada para algo que sempre existiu, veio apenas validar os esgotamentos nervosos ou os excessos provocados pelo trabalho excessivo. As pessoas cada vez mais só ligam ao trabalho, às carreiras que passam a comandar as suas vidas e tendem a esquecer o convívio, os amigos ou mesmo a família. Isolam-se, descuidam o repouso e os tempos livres e um dia é-lhes diagnosticado um esgotamento como consequência de anos de "stress" continuado e cujos sintomas, de tão banais nos dias de hoje, facilmente se tornam imperceptíveis. Na minha opinião, tudo isto é uma treta. Então os nossos avós, bisavós e por aí fora não sofriam de "stress"? A minha bisavó da parte do meu pai, por exemplo, teve oito filhos, oito, e nunca houve qualquer indício de que tivesse tido um acesso que fosse desse tal "stress". Hoje, com duas crianças e que apenas se vêem à noite depois de um estafante dia de trabalho, é logo uma canseira. Não há paciência, mandam-se para os avós e eles que tratem deles. E o meu bisavô? Que vivia do cultivo do campo e tinha a responsabilidade de cuidar das hortas, das sementeiras, das podas e da apanha, não era ele também um alvo ideal para essa maleita? Mas também nunca alguém se referiu a ele como um homem cansado ou que tenha tido alguma vez a necessidade de fazer uma pausa devido a excesso de trabalho. O que eu vos digo, meus amigos, é que este tal de "stress" não é mais do que uma desculpa com o aval dos ditos entendidos para nos tornarmos indiferentes ao que realmente importa. Ou seja, está descoberto o bode expiatório para a nossa indiferença perante os outros e aberta a porta para a ambição desmedida. Quanto a mim, vou continuando nesta minha vidinha pacata. E agora que me lembro, ainda hoje não fui ao pão. E, por acaso, até tenho outras compras para fazer. O melhor é tomar já o meu banhinho matinal, pôr o esfoliante, o creme para o rosto, o gel no cabelo, perfumar-me com um dos oito aromas que possuo e ainda escolher a roupa que melhor se adequa a um dia como o d'hoje. Depois, escolher o calçado próprio para este calor que se faz sentir e o hipermercado onde ir fazer todas estas compras. E ainda tenho de ir ao correio enviar umas cartas e uma encomenda para o estrangeiro, colocar aquele rolo de fotografias a revelar - eu sei que já devia ter uma digital - e passar pela lavandaria para deixar os sacos cama do inverno passado a limpar. Bolas que "stress"! Se não me acalmo ainda acabo como o meu bisavô, a plantar couves no canteiro aqui da rua e a ser alvo das coscuvilhices da vizinhança. Respiro três vezes e saio para a rua. Faço-me à estrada para dar de caras com o engarrafamento de todos os dias e olho com inveja aquelas pessoas que, às oito da manhã em pleno areal de Carcavelos, já se banham ao sol que nem lagartos, devidamente protegidas por um qualquer protector factor 20. Seja o que Deus quiser e pensamento positivo. Mais que não seja porque hoje é sexta-feira.

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