O silêncio
por migalhas, em 21.10.04
E se no meio da comunicação, do ruído e do som que a sociedade de hoje tanto valoriza, houver ainda quem dê um valor especial ao silêncio? Poderá tal atitude ser considerada uma aberração? Cada vez menos, diria. Se considerarmos que a cultura do silêncio desde sempre fez parte integrante das civilizações que habitaram e habitam ainda este planeta, então estaremos perante algo de todo natural e mais, salutar. O local onde privilegiamos o silêncio pode ser importante, mas acima de tudo conta a nossa capacidade de abstracção. Essa sim, permite-nos criar um espaço interior onde, mesmo no meio da mais completa confusão e ruído, seja possível abstrair-nos de tudo aquilo que nos rodeia. Criar laços estreitos com o nosso íntimo, com aquele eu que realmente somos e junto dele encontrarmos respostas concretas para os nossos mais profundos desejos. Tudo se resume à disposição que possuímos de nos querermos conhecer melhor. Olhar para dentro de nós e descortinar o que está bem e o que necessita de atenção. Uma forma de igualmente combater a fadiga e o stress, cultivando o bem-estar do corpo e do espírito. Algo que poderá ser novidade para o Ocidente, mas que o Oriente desde sempre privilegiou. Conceito base da meditação ou das mais diversas formas de artes marciais, o silêncio desde sempre foi veículo por excelência para a obtenção da paz interior. Felizmente vamos assistindo a um crescendo de adeptos desta forma de estar e de pensar. A própria exploração da criatividade de cada um - o poder de criar e de ultrapassar as limitações próprias do processo criativo - pode ser sinónimo de resultados reveladores. Isto porque permite utilizar os nossos recursos e talentos mais profundos, o que não só nos relaxa como devolve ainda energia ao nosso corpo e espírito. De uma forma ou de outra, é importante ouvir o silêncio. Saber estar com ele e aceitá-lo. Seja o nosso ou o dos que nos rodeiam. Pois ele pode ser imensamente mais revelador e expressivo que mil palavras, que mil sons.Ficam apenas algumas referências ao silêncio, em forma de provérbios tirados da obra "O elogio do silêncio" de Marc Smedt:
China: "Existe aquele que falou toda a sua vida e nada disse. E existe aquele que não chegou a abrir a boca e apesar disso nunca ficou sem nada dizer."
Japão: "As palavras que jamais foram pronunciadas são as flores do silêncio."
França: "O silêncio é de ouro."
Alemanha: "Cala-te ou diz qualquer coisa melhor que o silêncio."
Israel: "Saber calar-se é mais difícil que falar bem."
Itália: "Aquele que nada sabe, sabe o suficiente se souber manter-se em silêncio."
Roménia: "O silêncio também é uma resposta."
Espanha: "Perceber, ver e calar-se, senão a vida torna-se amarga."
Dinamarca: "Aquele que quer economizar deve começar pela sua boca."
Turquia: "A boca do sábio está no seu coração, o coração do tolo está na sua boca."