Brincadeiras de criança
por migalhas, em 14.02.06
É impressão minha ou este mundo, nomeadamente as pessoas que nele habitam, está a ficar realmente de loucos? Então agora, esgotadas todas as ditas artes de guerra e formas mais ou menos ortodoxas de provocar o inimigo, recorre-se àquilo a que já nem as crianças ligam nenhuma? Falo dos desenhos, neste caso de cartoons, feitos com intenção de provocar, ferir susceptibilidades e, em último caso, provocar a ira em forma de conflito. Bem sei que todos somos livres de nos expressar abertamente - para tal reina a democracia na maioria do globo - e que já tanto foi dito e escrito sobre o tema da religião, nas suas várias vertentes. Não passava era pela cabeça de ninguém nem mesmo do cartoonista dinamarquês responsável pelos polémicos cartoons sobre o profeta Maomé que em pleno século XXI o fanatismo religioso das nações árabes fosse ainda intocável e tão susceptível a certas situações. É só um cartoon, tenham dó! Se de cada vez que a publicação de um cartoon que visasse uma figura de vital importância do mundo de ontem ou de hoje gerasse reacções como aquelas a que se assistiram, então estou certo de que há imenso tempo que o planeta tinha já sido devastado por incontáveis conflitos armados. Não que o panorama real seja muito diferente ou que não se acabe mesmo por chegar a esse mesmo fim. Parece é que, agora, tudo serve para despoletar o ódio entre as nações, entre os povos, entre as religiões. Não estou a defender, nem a criticar. Estou a dizer que se respeite os ideais e convicções de cada um afinal havia tanto tema para brincar, logo ele foi escolher este tão potencialmente incendiário -, sejam elas quais forem e a que níveis forem, mas reservando uma margem que garanta a liberdade de expressão e de opinião, caso contrário não sei onde isto vai parar. Entretanto o Irão resolveu ajudar à festa e publicou num dos seus diários nacionais um cartoons cáustico em relação ao holocausto. A Áustria insurgiu-se de imediato contra e de arrasto irá certamente o resto da Europa e os americanos, mortinhos que estão por deitar a mão ao mais recente líder daquela nação árabe. Das duas, uma: ou estamos a entrar numa fase de maior criatividade no despoletar de conflitos a nível global, ou estamos com falta de ideias e recorre-se a brincadeiras de criança, em que cada um mostra os desenhos que fez ao adversário e tenta assim ganhar o seu ódio. Seja de que maneira for, pena é que o resultado seja sempre o mesmo: a guerra. Ao menos que fizessem um campeonato de futebol entre europeus e árabes a ideia não é minha, é do nosso ministro dos negócios estrangeiros de modo a aproximar civilizações. Quem sabe resultasse e fosse bem mais proveitoso. Desde que a arbitragem não fosse polémica e influenciasse o resultado final, claro.