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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Bloqueado e furioso

por migalhas, em 21.01.05
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Dia: Sexta-feira
Hora: 09h00
Local: Praça de Espanha
Argumento: Eu mergulhado no intenso trânsito automóvel que sempre se faz sentir naquela zona da cidade àquela hora. O que ali me levava não era assunto que me alegrasse por aí além. Ia ter com o meu mediador de seguros para saldar a factura relativa ao ano que agora teve início. Uma factura gorda, que aumentou ainda mais devido a um toque que dei no ano transacto. Mas não é só por isso que ela é assim, volumosa. É essencialmente porque quem tem veículos mais antigos, paga mais. Sim, entenderam bem. Quanto mais antigo o veículo, mais caro o seguro. Dizem que é uma forma esperta de incentivar à troca de carro de quatro em quatro anos, no máximo. Como se isso fosse uma coisa que se faz assim, do pé para a mão. Eu que até possuo um veículo que, em média, chega a durar vinte anos, claro que vou já trocá-lo a correr só porque alguém se lembrou desta medida, no mínimo, idiota. Por isso, só tive de calar e “arrotar” o pilim que vinha descriminado na factura. Sem tirar nem pôr. Chegado perto do local, avistei um lugar e trás, toca de lá estacionar a viatura. Tratando-se de um zona de parquímetro, como já o é noventa e tal por cento de Lisboa, dirigi-me à maquineta para sacar a senha a troco de uns cobres. Em resposta, recebi uma mensagem no visor da mesma que dizia “Fora de serviço”. Voltei ao carro e coloquei junto ao vidro da frente um papel onde escrevi, em letras garrafais, que a máquina em questão estava avariada, logo, não dava senha. Posto isto, fui à minha vida descansado. Nem trinta minutos passaram - os suficientes para efectuar os pagamentos que ali me haviam levado -, quando de regresso ao carro deparei com este bloqueado. Nem queria acreditar! Pensei logo que o cabrão do polícia me havia multado por falta da senha que a máquina avariada nunca me poderia ter dado. Junto com o meu, outros quatro carros encontravam-se em iguais circunstâncias. Em três deles estavam os respectivos passageiros que, num abrir e fechar de olhos, tinham visto os seus veículos bloqueados durante os escassos minutos em que se haviam ausentado dos mesmos. Claro que um deles já tinha ligado para as autoridades que, também em dois tempos, ali se colocaram. É óbvio que desatei logo a expor a minha situação ao que o agente da lei me respondeu: “Mas não foi devido a isso que o senhor foi multado”! Ah, não? Não, não fora. E a razão estava ali bem perto, num sinal de proibição de estacionamento a que se juntava uma placa onde se podia ler qualquer coisa como “Excepto para largada e tomada de crianças”. Ainda cheguei a pensar que tinha estacionado junto a uma sucursal da Casa Pia, mas não. No prédio que se erguia bem à frente de todos estes incautos condutores, funciona afinal um externato. Quem diria que no meio daquele edifício parcialmente abandonado e em ruína iminente, haveria de funcionar, no único piso habitado, um externato e ainda por cima com direito a cerca de dez lugares de estacionamento reservados apenas para a entrega e recolha das respectivas crianças. Que rica ratoeira ali colocaram. Ouvi dizer que são às dezenas, por dia, aqueles que ali deixam euros e euros em multas. Ora que grande porra, pensei! Também eu caí na esparrela. Lá vão mais uns cobres que tanto jeito me davam. E perante a realidade dura e crua destes factos que podia este quarteto de cidadãos fazer senão pagar e calar? Eu, pelo menos, era a segunda vez que o fazia num espaço de tempo tão curto. Ali ficaram trinta euros na hora e comigo trouxe ainda uma outra notificação, no valor de dezanove euros e noventa e cinco cêntimos, que tenho vinte dias para saldar. De seguida fui acompanhado por um outro agente da lei que, amavelmente, teve a delicadeza de retirar aquele aparelho amarelo da roda do meu veículo, após o que me deu ordem para seguir viagem. É claro que lhe lancei aquele olhar tipo metralhadora automática que o perfurou de alto a baixo sem dó nem piedade. Ainda o mandei para aquele sítio. Aquele sítio onde ele devia estar a autuar os idiotas que conduzem sem seguro ou aqueles que cometem infracções graves, umas a seguir às outras, pondo por vezes em risco a vida de outros condutores. Aquele sítio que todos conhecemos por estrada. Nem ouviu, o palhaço! Meti-me no carro e ainda me apeteceu passar-lhe por cima. Podia sempre alegar que do alto do meu Discovery não o tinha visto. Mas já começavam a ser coisas demais para me passarem despercebidas em tão pouco tempo. Resolvi arrancar, pensando para os meus botões que, para início de final de semana, até que não estava nada mau. Agora de volta ao conforto do lar, resta-me este desabafo e um alerta que deixo a todos os distraídos como eu, que fazem do carro o seu meio de transporte diário: olhem bem antes de estacionar. É que eles andam aí e actuam que nem ratos à cata do nosso dinheirinho.

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