Sexo em Portugal
por migalhas, em 17.02.06
A dar ouvidos àquele que é já considerado o estudo mais importante sobre sexualidade realizado em Portugal nos últimos anos, ficamos a saber aquilo de que, até aqui, apenas se desconfiava: a existência de uma diferença marcante entre a realidade da sexualidade feminina e aquilo que os homens pensam dela. Exemplo disso mesmo, é o facto de 32% das mulheres afirmarem sofrer de dificuldades no orgasmo, sendo que apenas 24% dessas são detectadas pelos homens. Daqui se conclui estarmos, uma vez mais, perante a velha questão dos orgasmos simulados, aqui contabilizados nuns relevantes 8%! Ou seja, andam para aí muitos homens que nem desconfiam de que as respectivas parceiras viram, adoraram e recriam amiúde o filme When Harry Meet Sally, em particular a inesquecível cena em que Meg Ryan finge, alto e a bom som, um orgasmo em pleno restaurante, para surpresa de todos os presentes. Como se estes valores não fossem já de si relevantes, fica ainda a constatação de que apenas 23% dos homens dão conta de dor ou desconforto na respectiva parceira durante o acto sexual, quando na verdade são bem mais as que se queixam do assunto, 34%. Sem querer estar a defender a ideia de que o sexo vive ou depende do uso intensivo da língua (embora esta possa ser utilizada de muitas outras formas aquando do acto), sei que na mente de muito gajo que por por aí circula tudo se resume a muita acção e poucas palavras, o que talvez justifique a flagrante falha de comunicação entre os casais. Embora 59% das mulheres contradiga esta ideia, afirmando que conversa sobre o assunto com o seu parceiro, a verdade parece querer transmitir o oposto. Uma evidente discrepância de valores, a merecer a atenção de quantos dedicam algum tempo da sua existência a esta actividade avassaladora, quando jogada a dois com as mesmíssimas armas e trunfos. Pois parece-me a mim que estamos face a uma das últimas coisas boas que ainda nos é permitido fazer sem limites de tempo ou de frequência, sem pagamento de imposto ou taxas adicionais e que, pasme-se, não contempla qualquer contra indicação para a nossa saúde, antes pelo contrário. Convém por isso preservar este bem que, já há quem diga, de futuro será meramente virtual. Dá para imaginar? Também me parece que não.