De emoção infectados
Custa tanto, tão pouco ou quase nada, amar e ser amado.
Dissuadir o coração de que não necessitamos de nada mais do que a fria razão, que estamos bem assim, obrigado, sem o tremor dessa emoção que nos seduz a cada virar de esquina, numa atracção continuada ao abismo profundo que contrariamos no desespero de uma última tentativa de nos agarrarmos à vida neutra e de racional apenas feita.
A toda a hora ele espreita, nos sussurra belas melodias, entoando cânticos que nos deleitam e sugam para as suas malhas de aroma doce, melosa textura.
Não nos permite qualquer distracção ou a mais singela veleidade, pois à primeira oportunidade tenta-nos com o potente veneno da sua ternura, com que nos trespassa o peito, contamina o coração, espraiando a pestilenta infecção, levando-a a quantos cantos sombrios, mesmo aos mais recônditos, com que depois se banqueteia, embevecida com a sua vaidade.
Enquanto nós nessa angústia, nunca breve, a que moribundos nos seguramos de cada vez que nos perdemos, de cada vez que já nada temos, senão a recordação do quanto sofremos em seu louvor.