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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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O que ando a ler

por migalhas, em 18.12.13

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A primeira frase de «O que Morre no Verão» define todo o livro. «Fiz o que fiz, e assumo-o.» A partir daí, o leitor é convidado a descobrir, página a página, o que fez Jim. Wright revela os factos aos poucos e gere a tensão de forma brilhante, oferecendo ao leitor uma obra preenchida de mistério, tensão e medo, de uma profundidade extrema, ainda mais quando os protagonistas estão muito bem construídos, principalmente Jim, entre a adolescência e a idade adulta, mas também a sua prima L.A..

O autor apresenta os acontecimentos paulatinamente, sem pressas, conduzindo o leitor ao seu belo prazer. Ao contrário de livros do género, aqui o ritmo é brando, calmo, mas jamais cansativo. A prosa é portanto inteligente.

Outro dado a destacar em Wright é a sua capacidade de contar histórias. Na realidade, temos aqui várias estórias dentro da própria história, com vários personagens cativantes. Os elogios a Wright, psicólogo de profissão, partiram de todos os lados, mesmo do músico e também escritor Nick Cave, que qualificou «O que Morre no Verão» de «magnífico».

 

Fonte: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=648305

Somos o esquecimento que seremos

por migalhas, em 03.12.13

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre "Somos o esquecimento que seremos", de Héctor Abad Faciolince.

 

"Somos o Esquecimento que Seremos" é antes de tudo um excelente título. Uma constatação com que raras vezes nos confrontamos, pois andamos sempre demasiadamente ocupados em querer ser algo que nos evite cair no esquecimento que, efectiva e fatalmente, um dia seremos. Quanto ao "miolo" em si, estamos perante uma descrição apaixonada de um filho por um pai que admirou e ainda hoje lhe é referência na vida que leva e de que muito se orgulha. Trata-se de uma manta de muitas recordações, que anos a fio estiveram guardadas à espera do momento de serem reveladas, momento a partir do qual despoleta todo um incrível conjunto de sentimentos que nos agarram pelos colarinhos e nos sugam literalmente para o interior desta obra ímpar. Mas se por um lado partilhamos dos medos, raivas e anseios que estiveram sempre presentes na vida do autor enquanto o seu pai, o médico Héctor Abad Goméz, foi um activo e irredutível militante na defesa da igualdade e dos direitos humanos, por outro lado vamo-nos apercebendo de toda a humanidade, paixão - quer pela família quer pelo povo colombiano carenciado e subjugado à força imposta pelo regime - e coragem postas em cada acção que, contra tudo e contra todos, este exemplar ser humano sempre tentou levar a bom porto, mesmo sabendo-se num ambiente marcado por um regime autoritário e militarista, quantas vezes alheio aos genuínos interesses e preocupações da população que acerrimamente Abad Goméz defendia.

Encontrei neste livro uma das mais belas e sentidas homenagens que podem ser feitas a um pai. Toda a ternura, paixão, respeito, consideração, transparecem para cada página de forma genuína, fluida e sem espartilhos de qualquer espécie. E o que mais me marcou, finda esta maratona que tanto deve ter custado a correr ao autor face a tudo o que lhe relembrou, foi a ausência de um ódio marcado, que até seria compreensível, face a quem ordenou e mandou assassinar o seu pai, certo dia em pleno centro de Medellín. Um exemplo, até neste particular.