«Se a história deste romance nos fosse contada por Jed Martin, talvez ele começasse por falar da avaria da caldeira do seu apartamento, num dia 15 de Dezembro. Ou dos solitários. Natais passados com o pai, um arquitecto famoso que sonha construir cidades fantásticas mas ganha a vida a projectar resorts de férias. Talvez não falasse do suicídio da mãe quando tinha apenas sete anos, porque são muito ténues as recordações que dela guarda. Mas mencionaria certamente Olga, uma lindíssima russa, que conheceu por ocasião da primeira exposição do seu trabalho fotográfico baseado nos mapas de estradas Michelin.
Apesar de indiferente à fama e à fortuna, Jed poderia mencionar o êxito estrondoso que alcançou com uma série de quadros de célebres personalidades de todos os meios, retratadas no exercício da sua profissão. Um dos retratados é Michel Houellebecq (sim, o autor), num trabalho conjunto que mudará a vida de ambos: fonte de vida para um e razão de morte para outro.
Confrontado com o homicídio de uma pessoa próxima de si, Jed não poderia deixar de incluir no seu relato como ajudou o comissário Jasselin a esclarecer esse crime hediondo, cujo cenário aterrador deixou marcas profundas nas equipas da Polícia.»
Vencedor do Man Booker Prize 2011, O Sentido do Fim, de Julian Barnes, traça sucintamente a história da vida da personagem Tony Webster. Trata-se, numa primeira fase, do relato de algumas vivências da sua juventude, apenas enquanto enquadramento para a forma como, 40 anos mais tarde, um simples episódio desperta conflitos e sentimentos antigos e transfigura, de modo irreversível, a perspectiva do passado.
Um belíssimo livro, marcado por uma escrita prodigiosa e absorvente de Barnes. Por outro lado, é também uma notável reflexão sobre a vida e o controlo que exercemos sobre ela, sobre o binómio passado/presente ou sobre a memória e a forma como, por vezes, idealizamos, corrompemos ou simplesmente manipulamos as nossas recordações. E termina em beleza, com um final surpreendente e arrepiante.
Comemora-se hoje o bicentenário do nascimento do escritor Charles Dickens
Charles John Huffam Dickens que experimentou o jornalismo e, para garantir o sustento da família, trabalhou numa fábrica, nasceu em Portsmouth a 07 de fevereiro de 1812.
Dickens começou a editar em 1833 em fascículos no jornal Monthly Magazine a ficção «A Dinner at Poplar´s Walk», que veio a editar depois em livro.
Em Portugal, segundo nota da Biblioteca Nacional, a primeira tradução de uma obra de Dickens, «Conto verdadeiro: o estalajadeiro de Andermatt», foi publicado no jornal O Ramalhete, nº 83 de 22 de agosto de 1839.
Ainda no século XIX são apresentadas «as primeiras traduções de cinco dos seus romances: Oliver Twist (1837-1839), The Life and Adventures of Nicholas Nickleby (1838-1839), A Tale of two Cities (1859), Great Expectations (1860-1861) e The Posthumous Papers of the Pickwick Club (1836-1837)», refere uma nota da Biblioteca Nacional que acrescenta que, em Portugal, o escritor teve maior proliferação editorial nas décadas de 1940 e 1950.
Samuel Riba considera-se o último editor literário e sente-se perdido desde que se retirou. Um dia tem um sonho premonitório que lhe indica claramente que o sentido da sua vida passa por Dublin. Convence então uns amigos para irem ao Bloomsday e percorrerem juntos o próprio coração do Ulisses de James Joyce. Riba oculta aos seus companheiros duas questões que o obcecam: saber se existe o escritor genial que não soube descobrir quando era editor e celebrar um estranho funeral pela era da imprensa, já agonizante pela iminência de um mundo seduzido pela loucura da era digital. Dublin parece ter a chave para a resolução das suas inquietações. Neblina e mistério. Fantasmas e um humor surpreendente. Um romance que parodia o apocalíptico ao mesmo tempo que reflecte sobre o fim de uma época da literatura.