por migalhas, em 26.08.10
assim te esvais, lentamente
como quem já só sussurra o respirar
na lenta espera pelo derradeiro suspiro
último sopro de vida a que podes almejar
assim partes, lentamente
como quem chama por ti
frágil batel entregue às vagas a poente
já sem querer ou razão aparente
assim te apagas, lentamente
bafo de fogo fátuo delirante
ao som da extrema unção cessante
eterno breu de ora em diante
assim jazes agora sem chama
alma breve e gentil que partiste
sem mágoa, lamento ou drama
extinta a luz que permitiste
de fio ao pavio que foste
sempre assim, ardente
assim, lentamente
por migalhas, em 18.08.10
fogachos, são-no quase sempre
um fala, agride
outro conversa, encanta
outro ordena, impõe
outro sussurra, seduz
e são farpas e são rosas (senhor!) e são o que são aos ouvidos de quem as escuta, aos olhos de quem as lê
mas nunca vãs
quase sempre fogachos
períodos breves apenas preenchidos pelo som que delas brota
qual canto de sereia que se ouve ao longe e se afasta até não mais se distinguir
o seu valor é o que lhe damos
seja no tom que se lhes imprime, seja naquilo que nos suscitam
umas vez paridas, voam breves
resistem um tempo que não se conta
aquele que apenas para nós conta
quem as ouve, quem as interpreta, quem as ignora
fogachos que se erguem agora
para se quedarem mortos na próxima hora