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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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antes assim que acordado

por migalhas, em 21.07.10

Decerto não seria assim que usualmente via as coisas, analisava as situações, para depois tomar as decisões, fossem as mais acertadas ou, ainda sem o saber, as menos apropriadas. Olhei em redor e tudo me parecia maior. Eu era mínimo, disso eu tinha a certeza. Ao pé de mim, um habitante de Lilliput era um gigante de proporções astronómicas. Eu era tão pequeno que haveria ainda de ser descoberta a lente capaz de me observar. Eu era assim, naquele instante em que vi as coisas de um outro ângulo, de um modo que nunca antes havia experimentado. E como eu mais ninguém. A solo, único ser minúsculo e sem aparente importância à face daquele prato de esparguete à Bolonhesa. Quem me haveria de contar, e decerto então não iria acreditar, que no dia de hoje, logo no dia de hoje, iria acabar rodeado de molho de tomate a meias com carne picada que, mais tarde vim a saber, antes era soja granulada. As dores de parto não paravam, nem sequer abrandavam, e eu mortinho por nascer, por sair daquele invólucro vegetariano para me fazer à vida e, quem sabe, refrescar-me num qualquer lago ou simplesmente saciar-me com uma imperial fresquinha acabada de tirar. Fechei os olhos. Cerrei-os mesmo, com toda a força que me era então possível e gritei. Pela face correram-me lágrimas apressadas em, também elas, se fazerem à sua vida, cumprindo com a sua missão de expressarem aquele meu momentâneo sentir. De tudo um pouco me ocorria, num cocktail de felicidade a que juntara tristeza e êxtase em doses q.b., uma pitada de desilusão e ¾ de uma colher de sopa de esperança em que tudo isto terminasse afinal como nunca deveria sequer ter começado: como um sonho. Estava calor, disso me recordo. A cama fazia uma cova no preciso sítio onde me acolhera nas últimas horas. Os lençóis empapados e eu de ar desgrenhado, frente a frente comigo mesmo naquele espelho barato de casa de banho, comprado às presas no IKEA. Olhei a janela, o que lá fora se respirava, e logo se me entranhou aquele odor agoniante a McDonald’s. Antes a Bolonhesa, que a Marselhesa eu já conheço desta revolução que me apanhou sem aviso e me deixou neste estado, desgraçado. Ainda me tentei a regressar à cama, mas para quê? Ali já nada me esperava. Ela partira e nem uma nota, um mísero bilhete a avisar-me de que fora à sua vida, na qual não mais me incluía. Chorei, como um puto do liceu que leva uma carga de porrada de uns quantos gandins e no processo fica sem a mochila, os ténis de marca e o relógio que o pai lhe oferecera no último aniversário. Também ali perdera tudo. O Verão, toda e qualquer estação, as modas e as viagens feitas em modo excursão. Não mais me ouviriam cantar “A Portuguesa”, isso não. Olhei a sanita, tampa aberta, águas calmas aguardando a mija da manhã e em vez desta todo eu me lancei de um trago na sua profundidade. Fui pelo cano, pode dizer-se. Mas nem deixei mensagem, ou uma singela nota a referi-lo. Fui e nada mais.