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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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no cais

por migalhas, em 27.01.10

naquele cais me vi nascer e a ele me chego para morrer

nas suas águas revoltas de tantas embarcações que chegam e partem ao ritmo de quantas vidas as imitam

e eu a querer-me uma delas

a levantar âncora e a sulcar estas águas que um dia me viram nascer

e a meio caminho da viagem viver um episódio trágico-marítimo e nele entender que viagem alguma leva a algum lado

que odisseia alguma nos faz realizados

que é o tempo que nos abre fundos sulcos na aridez da pele que antes nos secou, para nos pontapear a seguir, para onde ele entende

ele que nos apressou a vinda e sempre ao ritmo da sua pressa nos avança lesto a ida

a mesma que aqui venho reclamar

minha

neste cais que um dia no seu âmago me viu desaguar

 

Na hora que não demora / Tomo 3

por migalhas, em 20.01.10

do nada ao nada num ápice de escassos recursos

uns quantos dias e umas paisagens

uns quantos aromas que se confundem e misturam

uns quantos objectivos, umas ilusórias conquistas, uma mão cheia de ilusões, a outra de expectativas goradas

pétalas de um malmequer qualquer que nunca me quis bem

o trago amargo da verdade

fel que martiriza as vivências escassas, até nos recursos

memórias tragadas pelas traças

estranhos dias que se perseguem, numa fila ordeira em demasia

qual balde de água fria

quantos por vir?, que os que foram não mais serão

num abissal vórtice que nos há-de levar àquela hora

aquela hora que nunca demora

Na hora que não demora / Tomo 2

por migalhas, em 19.01.10

O tempo, esse sprinter obcecado pela eternidade da distância que corre, que nos nossos ombros carrega as suas ambições num desmedido peso a que sucumbimos num preciso instante, pois ele é animal que não mede a força que tem, demasiada, a certa altura da estrada, nesse preciso instante em que finda a nossa estada sucumbimos, findo o tempo que era o nosso, sem o qual tudo se finda para nos tornarmos nada.

Na hora que não demora / Tomo 1

por migalhas, em 18.01.10

À sexta são onze

dias em catadupa ao ritmo febril dos seus parentes infindáveis, não no que são mas no seu sentido

ou o que são, são o seu sentido?

Será a sua essência, a descobri-la, bússola orientadora?

Para onde nos guiam e fazem avançar a preceito apenas do sentido que nos encaminham?

Eles, a comandarem em ditadura

nós, ordeiros cordeiros de um deus desconhecido, a seguirmos fiéis quem tanto admiramos e respeitamos, mas não admitimos, quais senhores de um nariz que nem nosso, que há muito o perdemos, para ele, o tempo que nos escapa e foge por entre os dedos, por entre os dias infindáveis, aqueles que só morrem connosco, nessa hora que é a nossa e a de mais ninguém.

 

nas derradeiras horas de 2009

por migalhas, em 06.01.10

As derradeiras horas de 2009 escorrem lestas para o ralo do tempo passado. Onde vão desaguar, ninguém sabe. Certeza, apenas a de que estas e todas as outras que perfizeram mais um ano, este a terminar em 09, se materializaram e fizeram sentir, guiando-nos ao longo do seu tempo sempre apressado, tão depressa a ser apenas esperança e matéria de muitos desejos, como logo a seguir, quase num piscar de olhos, a ser memória recente, em breve nem isso. Por isso hoje deveria ser dia de balanço. Do que se fez, do que se almejou, do que se conseguiu, das conquistas, mas também das derrotas, das desilusões, do que não nos foi permitido, pelo menos por enquanto. Mas porque o tempo é contínuo, uma linha recta que não se quebra em momento algum, e por isso tenho-o para mim como a compilação de todos os momentos por mim vividos desde a primeira golfada de ar até à que será a definitiva, parece-me descabido fazer apreciações do que foi apenas e só uma escassa parte desse todo. Farei sim, se tal me for permitido, uma resenha final do que foram todos os anos, todos, desde aquele que me viu nascer ao que me verá desaparecer, quem sabe para vestir novas roupagens para de novo me apresentar ao serviço, sabe-se lá quanto tempo depois e mesmo onde. De 2009 retenho dias de imensa felicidade, extrema mesmo, experimentados com aquilo que de mais valioso um homem pode fazer em vida, dar vida a outro ser humano e daí em diante dele tratar e cuidar como se nada mais importasse. Retenho momentos de ansiedade, de desilusão, essencialmente com as pessoas, com algumas, que se mostram possuidoras de dupla face e desse modo impossíveis de nos merecerem qualquer tipo de confiança, por mínima que seja. E há tantas assim, para mal deste mundo em que deveria antes abundar a bondade, a partilha, a amizade sincera e nunca suportada em interesses e segundas intenções. Enfim, águas passadas. Interessa que hoje sou feliz, vivo com mais intensidade e, olhando para trás, concluo que esses instantes foram apenas e só isso mesmo, instantes. Micro segundos neste cosmos de outros tantos instantes, esses bem mais marcantes e a somarem pontos à felicidade e plenitude de poder viver intensamente. Não convém escondê-los, pois foram matéria de aprendizagem, aliás como cada instante vivido, seja ele positivo ou negativo, mas essencialmente são episódios que irão ser relegados para aquele cantinho do sótão onde por hábito se guarda tudo, mesmo aquilo que já não tem utilidade ou não serve para nada. Estamos nas últimas horas de 2009. Cai uma vez mais o pano para logo a seguir voltar a subir, preâmbulo do que será um novo espectáculo que já se adivinha. Que isto da vida é um show, and the show must go on. Será então já em formato 2010 e seja aquilo que for, traga aquilo que trouxer (que sobre o seu conteúdo não temos voto na matéria), será com certeza mais um conjunto de muitos momentos a serem vividos e experimentados ao tutano, pois só assim poderão somar bagagem àqueles que os antecederam, bagagem que será a que levaremos um dia, no dia em que feita a resenha final de todos eles, concluirmos que valeu a pena a viagem, a mais bela que algum dia nos foi dada a experimentar.