ínfimos obstáculos
anda pelo ar
move-se sinuosa por entre os espaços e insinua-se a despropósito no meu olhar
queima-me a vista e faz-me parar
poeira invisível que preguiçosa se desloca ou faz deslocar
à boleia do vento, até da brisa que sopra do mar
e incomoda, impudente no seu propósito
explicitamente a homologar essa sua forma de estar
tarefa de nos chatear, do ritmo nos abrandar
por culpa da visão que nos tolda ao passar
no seu passo doble traiçoeiro
de quem se move libertinamente
sem freio ou receio do que lhe calhe em sorte
a mesma que nos falha quando se atreve
e a vista nos cega
às cegas
perniciosa invalidez que num instante nos obsta o discernimento
impensável por coisa tão mínima, como a poeira
que nos anula o presente e dele nos desvia
até novo dia
regressada alvorada
que nos restitua o ver
e com ele entender
que são grãos de poeira, ínfimas parcelas sem eira nem beira
quem nos trava o passo, retarda a vida
qual colosso Adamastor
que nos injecta o pavor
de apenas supor
que viver é este torpor
sem nada mais para oferecer
que ansiedade, sofrimento e dor