Mar adentro
O mar não escolhe os dias
Não tem vida agendada, nem hora marcada
Apresenta-se sem rodeios em cada feroz embate que dita aos seus emissários
Às ondas grandes, às pequenas vagas, a cada tentáculo que arremessa vigoroso contra o seu leito de rochas feito
Em assaltos temerários que se introduzem pelas fissuras de anos de erosão
De tantas e tantas cargas sobre esta brigada pesada
Que um dia do ventre terrestre se impuseram
Vigorosas estátuas a erguerem-se das profundezas
E a fazerem-se barreiras naturais à natureza do mar
Todos os dias, que ele não escolhe os dias
E às ondas e às vagas e vagalhões que não se quedam
Por nada nem por ninguém
Essas estruturas que um dia hão-de derrubar
Pacientemente, na persistência dos dias
Daqueles que não escolhem
Da soma de quantos lhes enfraquecem as defesas e nessas se introduzem como o cancro que corrói ou a ferrugem que desgasta e destrói
Que o mar não se faz rogado
Apresenta-se sem rodeios e sem rodeios faz-se convidado
Aqui, ali, em todo o lado
Porque é o mar e o mar não se queda
Por nada nem por ninguém