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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Isolado

por migalhas, em 09.07.09

Que é isso de ilha?

Oásis perdido, em quantos oceanos, imensos

Água tamanha a enrolar-se à sua volta

Num abraço apertado, a perder-se no longe ténue

Ainda assim sequiosa, e assim a morrer

A espraiar-se no mar, pela mão da fina areia

Na fusão incapaz que nunca se perfaz

É viver sozinho em multidão

A estender a mão e nada levar

Nenhum toque, nenhum olhar

É ter vizinhos mil e sozinho habitar

A cair de bêbedo sem o vinho sequer provar

É desfalecer na rua e ainda assim ignorado

Atropelado, trucidado, e nem um, de tantos, se comover

É não saber para onde ir, se ir

Sabendo-os aos milhares, os destinos

Partidas, chegadas, viagens cruzadas

Todas estagnadas, perfeitas imagens

Gastas, amareladas, de quantas revistas surripiadas

A decorarem a memória que não tem hora

Que não lhes sabe ou reconhece

Um único lugar que não conhece

Aqui, onde seja

Deambula perdido, sem tino

Afogado num mar, também profundo, mas de gente

Que não compreende, que não o sente

Abandona a mesa, deixando-a só

E sem ordem sua da janela espreita a rua

É tanta a gente, a ele indiferente

Que a seus pés o chão mexe, o corpo estremece

No corrupio dos que vão, dos que de volta estão

Todos por comum de alma esventrados, limpos

Como o frango que lhe foi repasto

Que palita agora dos dentes, vazio de significado

Prestou-se a contento, agora só pensamento, breve, esfumado

Ele uma ilha, o tal oásis, invisível miragem

Tantos os olhos, nenhuns os olhares

Agoniza, como em tempos o frango, carcaça de asas decepadas

Dilacerado, miúdos ao lixo, a seu lado

Repousa neles os seus olhos e também neles nada vê

Sabe apenas que foram, parcelas vivas daquele todo agora desmembrado

E ele? Que não vai a nenhum lado?

Como poderá dessa forma ser lembrado?

Não o será, é certo

Apenas morrerá

Da forma que viveu, o tempo que perdeu

Arrastado, agastado por nem se entender

Alguém que o mate, lhe ponha cobro à dor

Antes que ele a tome nas suas mãos

Num inexistente momento de fervor

E para sempre isolado seja o seu estado

Na moldura da memória que não tem hora

Eternamente derrotado

Sem chama, nem vestígio de glória