os meus beijos pesam duzentos quilos
por isso osculo tão pouco
com receio de esmagar quem me aceite este cumprimento
os meus beijos têm duzentos metros de altura
e é do alto dessas duas centenas de metros que os lanço a quem os queira
são poucos, admito
o medo de se estatelarem de tão grande altitude levam-nos a recear a oferta
que a muitos faço chegar de pára-quedas, na esperança de evitar males maiores
os meus beijos valem o seu peso em ouro
e a sua altura em fornadas de pão quente que pela manhã distribuo porta a porta junto daqueles que com eles se banqueteiam agradados e encaram cada dia mais aconchegados
pelos meus beijos
os que vou servindo amiúde, pois excessivamente pesados, demasiado altos
façam fila, sim, tirem senha, aguardem vez e aventurem-se
afinal o amor é um fardo e o meu começa na sua forma mais simples
bastar-me-ia viver um dia e de cor todos os outros saberia a pressa que dou ao tempo, na pressa que é o tempo as palavras que não digo, já nem lhes ligo as palavras que já não ouço, ninguém mas diz quanto de mim que não dou, que foi que eu fiz?
o que impera é incerteza, mesmo no que julgamos certeza os fogachos de felicidade, os sorrisos sumários a ausência de interpretação, subjugada à tirania da reacção tudo quanto era emoção, trucidada pela cínica razão um escasso olhar de ternura, um segundo de fé no que é candura que nada do que é belo perdura senão tarefas, deveres, obrigações monstros opressores que nos consomem às revoadas incessantes no ritmo com que nos impedem e roubam toda a vida aquela que conheço de cor bastar-me-ia um dia
Aqueles que procuram agradar andam muito enganados. Para agradar, tornam-se maleáveis e dúcteis, apressam-se a corresponder a todos os desejos. E acabam por trair em todas as coisas, para serem como os desejam. Que hei-de eu fazer dessas alforrecas que não têm ossos nem forma? Vomito-os e restituo-os às suas nebulosas: vinde ver-me quando estiverdes construídos (...)