cair profundo
falece-me o chão sob o peso dos meus pés de aço
em breve nas entranhas desta terra que nunca entendi, sulco galerias por entre quadros de figuras em barro
é a terra que me engole e eu deixo-me ir, quem sabe a essência me escute e se dê a entender em laivos de luz que antes nunca se perfizeram
é o caminho profundo que me leva ao cerne de quanto acontece sete palmos abaixo do nível que antes percorri com pés pesados, a arrastá-los
sinto-me ir, no desamparo do nada que me sustém, até onde de novo solo, pedaço firme, nem que seja de terra, que me apare o entendimento
enquanto isso, penso no bom que seria voar
qual ser dotado desse fulgor libertador
a alcançar o topo de um arranha-céus e dele se precipitar
num voo sem memória, num acto singular
até que uma voz, a que diz
vais-te despenhar
findo o sonho que te fez voar
cerrada essa porta de par em par
selada a janela que não te há-de ver chegar
por fim são, jamais salvo