O que serei
Ontem fui Pai, hoje Pai sou, numa missão que não comporta turnos e me toma o tempo que é todo o que tenho e que mais gostaria de ter. Hoje vi espelhado nos olhos brilhantes da inocência, toda a ternura, toda a retribuição de quem ainda nem sequer sabe o que isso representa. Tudo isso eu vi cintilantemente reflectido no seu olhar doce e orgulhoso e preenchido de uma felicidade que nem eu nem ela sabemos pesar, sabemos medir. E ao observar-lhe tudo isso no seu olhar doce e orgulhoso, no seu tímido mas revelador sorriso, vi também o quanto vale ser Pai, ontem, hoje, nos dias todos que hão-de vir. E se hoje ela me disse ser o meu dia, digo-lho eu a ela, hoje e para sempre, que este dia é o seu. Que este dia é a Primavera, é o renascer dos dias repletos de luz, de sol, de tudo o que os seus olhos doces e orgulhosos podem reclamar, pois tudo podem reclamar seus, os seus olhos, o seu afectuoso olhar, a sua enorme figura, enorme presença, num tão franzino ser e estar, um ser e estar de criança que é toda ela inocência no seu mais puro estado. E se hoje sou Pai, com ela orgulhoso partilho esse feito, do mesmo modo a cada dia, soalheiro e reinante na alegria desta nossa Primavera. A sequência será a dos dias, a dos que se seguem numa cadência que não ditamos, apenas seguimos e acompanhamos. E se hoje a Primavera, amanhã o Verão, na certeza de que Pai o serei a cada hora, haja luz e sol e céu pintado a azul, haja água que se precipita do cinzento pesado que nos cobre e quase nos atemoriza. Mas tu não temas, nada temas, nem tu nem a tua irmã, pois aqui estarei, a tempo inteiro, o tempo que é todo o que tenho e que mais gostaria de ter, teu Pai, vosso Pai, melhor do que ontem fui, para sempre vosso fiel protector, a querer-vos do coração, a amar-vos como nada nem ninguém se ama assim. Amar incondicional, na Primavera, no Verão, nos dias todos que agora serão para sempre os nossos dias.