Na hora estranha
Há uma hora atrás puro irrealismo
e há duas e há três
dissimulada certeza, uma enorme suposição na hipótese apenas avançada
de prognóstico reservado, aposta num fundo que nem perdido
tudo investido, a totalidade de mim e do mundo que me circunda, nesta incógnita forçada
sem nenhuma garantia, nem uma, que me garanta o segundo seguinte, quanto mais a hora!
Uma só hora, mas há uma hora atrás nem esboçada, toda ela estranha
olho em frente e mesmo tão perto, a abeirar-me, não lhe vislumbro um ínfimo detalhe, a mínima silhueta que me permita identificá-la de entre as que já vi(vi)
tudo omite e esconde num silêncio até de imagens
que nada adianta, a hora que se segue
nem mesmo o contador de todas, as que foram e as que serão
aquele empilhador de todas elas, que nos persegue com o seu somatório e com elas nos espicaça a seguir atrás da que vem a logo a seguir
(essa primeiro, depois as seguintes)
nem mesmo esse lhes adivinha os intentos
Somos todos sua prole, submissos seguidores de quanto nos reserve
(seja feita a sua vontade!)
sem alternativa, na impotência do que ditará no momento seguinte
eterno desconhecido, em infinitos mistérios sem pistas, há uma hora atrás
mesmo a nós, seus filhos
principalmente a nós, seus filhos
agora e na hora proibida
que antes a sorte
na que se segue a morte